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Política

Família de herói amazônico exige na Justiça direitos autorais da Warner Bros


  

ELSON MARTINS (*)
Agência Amazônia

RIO BRANCO, AC – Hiamar Pinheiro e Ilzamar Mendes se consideram órfãs do movimento que marca as lutas socioambientais no Acre. Hiamar, 44 anos, filha do líder seringueiro Wilson Pinheiro assassinado em 21 de julho de 1980 na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, na fronteira com a Bolívia. 

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Hiamar, filha de Wilson, e Ilzamar, viúva de Chico / ELSON MARTINS


No início da noite, ele assistia pela TV à novela “Água Viva”, curioso de saber quem tinha assassinado o personagem Miguel Fragonard. Às 20h30, seu companheiro João Bronzeado lembrou que tinha papéis do sindicato para assinar. Wilson levantou-se com seus quase dois metros de altura e magreza, ocasião em que pistoleiros tocaiados do lado de fora o mataram com três tiros nas costas, atingindo seus rins.

Morria assim o primeiro grande líder dos povos da floresta. A do lado direito é Ilzamar Mendes, viúva do também seringueiro Chico Mendes assassinado às 18h30 de 22 de dezembro de 1988: o então presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, pressionado pela mulher, levantou-se da mesa onde jogava dominó com dois policiais militares (seus seguranças) para tomar banho e em seguida jantar.

Ao abrir a porta para o fundo do quintal, onde ficava o banheiro, levou um tiro de chumbo no peito. Os policiais fugiram pulando pela janela da frente da casa, na direção da rua, enquanto Ilzamar se exasperava gritando por socorro. Chico foi comparado por ambientalistas do mundo a Mahatma Ghandi e Luther King.

Inominável injustiça 

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Therezinha Pinheiro, com os filhos Ambrósio e Hiamar / ELSON MARTINS
As semelhanças entre essas duas filhas da floresta transcendem o trágico. Aparecem na origem familiar, nos aspectos físicos, no estilo e nas circunstâncias políticas que as empurram para embates geralmente desfavoráveis. Com freqüência elas colidem medindo forças entre si.

Hiamar se sente em desvantagem, pois seu pai nunca teve, nem de longe, o reconhecimento do marido de Ilzamar. O que ela, sua mãe Maria Therezinha (viúva de Wilson) e mais sete irmãos consideram inominável injustiça. Mas surgem neste começo de 2009 sinais de pacificação. Na terça-feira, 14, as duas se encontraram na Biblioteca da Floresta e trocaram juras de amor. O cupido foi o Lhe (Abrahim Farhat Neto), que agora pressiona o Estado para que reconheça o peso histórico de Wilson Pinheiro e compense, de alguma forma, a perda que a família carrega em meio a uma legião de surdos. Sua estratégia principia com pressão política contra a poderosa Warner Bros, empresa norte-americana de cinema para que esta indenize a viúva Pinheiro “por danos morais”, por ter usado o líder seringueiro como personagem do filme Amazônia em Chamas sem ao menos ouvir qualquer membro da família. O valor cobrado é de quatro milhões de reais.

Para discutir essa estratégia foram convidadas 30 pessoas e anunciado a exibição do filme “Amazônia em Chamas”, que ninguém se lembrou de levar para exibição no auditório da biblioteca. Por conta desse lapso rolou apenas um papo entre os 15 presentes, entre os quais o polêmico líder sindical Osmarino Amâncio Rodrigues, acompanhado do dirigente regional do PSOL Antônio Costa – candidato derrotado ao Governo do Estado em 2006 – e um representante nacional da Responsabilidade Sindical, de nome Paulo.

O clima parecia tenso, com algo ou alguém separando as duas “feras feridas”, até que o Lhé chegou e quebrou o gelo levando Ilzamar a declarar: “Muitas vezes se esquece que o companheiro Wilson Pinheiro deu a própria vida em defesa do Acre. Eu sinto que a força política é importante. Nós temos que unir forças. Na pressão isso vai se resolver mais rápido”.

Sei não! A discussão não estimulou dona Therezinha Pinheiro a dizer o que pensa, menos ainda ao Ambrósio, seu filho mais velho, cabendo ao Osmarino aproveitar a deixa para sentar o pau no Governo no estilo “1968, o ano que não terminou”. A imagem de que os seringueiros e suas famílias estão bem de vida é falsa, disse ele dando exemplos: “O seringueiro está vendendo a lata de castanha por R$3 (já vendeu a R$13 em safras passadas), a fábrica de camisinhas está fechada, a fábrica de tacos também. Se o Estado quisesse, poderia resolver essa situação, mas somente utiliza as famílias dos seringueiros como cartão postal. Quanto às ONGs (entidades não governamentais), todas recebem dinheiro do governo”. 
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Hiamar, Osmarino Amâncio e Paulo Dinelli / ELSON MARTINS


Filme ruim

O processo contra a Warner Bros foi encaminhado à Justiça em 2003, através do advogado Paulo Dinelli, amazonense considerado “pássaro fora do ninho” nas intrigas acreanas. Ele raramente procura a família, seu telefone está sempre na caixa postal e quando procurado escapole dizendo que está “em audiência”. Parece mesmo esquisito.

O fato é que a poderosa Warner contestou a ação através de seu escritório em São Paulo e, embora a juíza Olívia Ribeiro, em 2005, tenha condenado a empresa pagar direitos autorais, desapontou ao reduzir o valor de R$ 4 milhões para irrisórios 160 mil reais.

Quando viu a sentença, Hiamar subiu nos tamancos e com a ajuda do Abrahim Farhat decidiu entrar com nova ação para corrigir essa quantia. A nova ação não fala mais em direitos autorais, mas em “danos morais”. E aí a argumentação é contra falsidade do roteiro filmado por John Frankenheymer em 1994.

Originalmente, “The Burning Season” foi produzido para televisão pela rede HBO e pouco teve a ver com a luta dos seringueiros acreanos. Rodado no México com atores espanhóis, coloca Wilson Pinheiro de cabelo comprido e seus companheiros com chapelão mexicano. Ainda assim, há 15 anos fatura horrores, o que representaria pouco indenizar dona Therezinha e sua prole.



A TV Globo que se cuide!

Ilzamar Mendes já entrou com ação contra a Rede Globo de Televisão cobrando R$ 3 milhões pela utilização de sua imagem na minissérie “Amazônia - de Galvez a Chico Mendes”. Seus filhos Elenira e Sandino , e mais a filha Ângela de Chico Mendes com a primeira mulher, estão com outra ação pedindo R$ 5 milhões.

Seguindo o exemplo dos Mendes, Hiamar também está montando sua ação contra a Globo, e já adiantou que vai pedir R$ 3 milhões.



Por acaso

O advogado Paulo Dinelli entrou na história com a Warner Bros representando a viúva de Wilson Pinheiro por acaso. Foi o único que aceitou a causa, já que a família não tem dinheiro nem o prestígio de Chico Mendes. Ele disse que um dia Hiamar entrou no seu escritório com uma fita VHS do filme Amazônia em Chamas, e daí a história foi rolando. A julgar pelas queixas da família, ele parece fazer pouca fé na ação que defende.

 

Haja paciência

Formada em Educação Física, Hiamar Pinheiro diz que gosta mesmo é de fazer boa política como a que seu pai fez em defesa dos desfavorecidos. Dos oito filhos de Wilson Pinheiro (sete mulheres e um homem) ela é a mais desenvolta e brigona no bom sentido. Mas como sofre! Eleita vereadora de Epitaciolândia pelo PT em 2000, em 2003 foi expulsa do partido se transferindo para o PSB. Nas eleições de 2004 não conseguiu se eleger, e agora deve trocar o PSB pelo PC do B ou pelo próprio PT (sua sigla preferida). A história de bastidores da política que ela conta é proibida para menores de idade.



Família esquecida

Há 29 anos esta família luta por obter alguma compensação pela perda do líder seringueiro Wilson Pinheiro. A viúva Maria Therezinha, de 68 anos, o filho mais velho Ambrósio, de 49, e Hiamar, de 44 (na foto abaixo) continuam reivindicando seus direitos. Dona Therezinha é uma mulher religiosa e serena, que sempre ensinou paz e sensatez aos filhos. Imaginem se fosse diferente! Ela tem fama de boa caçadora e chegou a me confirmar que não erra um tiro “sobretudo à noite dentro da mata”.

(*) É editor do site da Biblioteca da Floresta Marina Silva e colaborador da Agência Amazônia.  O texto foi originalmente publicado no Almanacre, editado por Elson Martins no jornal Página 20. 

Fonte: Montezuma Cruz - A Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião e do Opinião TV.

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