Porto Velho (RO) sábado, 18 de maio de 2024
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Política

Camponeses do Raio do Sol e Canaã celebram a posse de suas terras



O barracão antigo, de palha, que foi tão útil durante tanto tempo, ao lado do novo
barracão da Assembléia, de madeira e telha mostra como os camponeses tem melhorado a realidade de onde vivem, trabalham e lutam graças à sua união e organização! O novo barracão é mais um símbolo do Poder Popular!

 Tudo preparado, um grupo de camponeses soltou uma salva de foguetes. Todos se achegaram, cantaram “O Risco” e gritaram as consignas: “Conquistar a terra, destruir o latifúndio!”, “Nem que a coisa engrossa, esta terra é nossa!”, “1, 2, 3, 4, 5, 1.000, avança a Liga por todo o Brasil!”, “Viva a Assembléia do Poder Popular!” e Vivas ao Raio do Sol, ao Canaã e à LCP. Começou a Assembléia com quase 200 camponeses!

Primeiro montou-se a mesa com membros das coordenações do Raio do Sol e Canaã e da LCP. Atrás da mesa estava a bandeira da LCP e acima as bandeiras do MFP – Movimento Feminino Popular, da Escola Popular e da Palestina numa homenagem ao povo irmão que tem enfrentado e derrotado as agressões covardes do Estado fascista de Israel e do imperialismo ianque (Estados Unidos).

Seis anos de muito trabalho, luta e conquistas

Depois se leu a pauta da atividade e o panfleto com o histórico das duas áreas.

Um dos coordenadores do Raio do Sol foi o primeiro a falar. Lembrou os anos de luta, a resistência dos camponeses aos ataques de pistoleiros, despejos onde as famílias perderam tudo o que tinham, mas recomeçaram. Não podia esquecer quando os camponeses derrubaram uma ponte, entupiram as estradas e se esconderam no mato e assim conseguiram impedir a entrada da polícia que iria despejá-los. Lembrou também a luta mais recente quando todas as famílias do Raio do Sol, unidas à maioria dos camponeses do Canaã, prenderam o ônibus escolar dentro da área. A prefeitura foi obrigada a mandar representantes ao local e liberar o transporte também para as crianças do Raio do Sol. Se os camponeses não tivessem feito este ato combativo as crianças do Raio do Sol ficariam mais um ano sem estudar.

Do Canaã falou primeiro um camponês antigo da área e depois dois coordenadores. Todos lembraram os enfrentamentos com pistoleiros, despejos, as direções oportunistas anteriores que mantinham os camponeses acampados, dificultando de todas as formas cada um entrar para sua terra e com isto eles ficavam na cidade negociando lotes. Foi destacado como a área mudou em apenas um ano depois que a LCP assumiu a direção da área, que agora está cheia de roças, criações, crianças, um barracão novo para Assembléia, está cheia de vida. Também foi dado o exemplo de várias vezes que os camponeses do Raio
do Sol se uniram para enfrentar pistoleiros e despejos o que deve sempre ser lembrado para unirem cada vez mais uma área com a outra.

Uma questão importante destacada por um dos coordenadores foi das mulheres participarem ativamente da luta e de igual para igual com os homens. Deu o exemplo da construção do novo barracão quando, depois da Assembléia do domingo anterior, foi uma camponesa quem propôs que todos carregassem as tábuas naquele dia mesmo, aproveitando que estavam todos juntos. As mulheres fizeram a linha de frente e em poucos minutos toda a madeira já estava no local onde seria construído o novo barracão. É uma lição para aqueles que não acham tão importante as mulheres participarem da luta, ou acham que elas devem assumir só as tarefas secundárias. Viva o MFP – Movimento Feminino Popular!

O coordenador da LCP que falou primeiro ressaltou que a Revolução Agrária que a LCP tem proposto desde seu 4º Congresso tem crescido em todo o país como uma onda de camponeses empurrados pela necessidade e cada vez com mais consciência política da necessidade da tomada do Poder. Que é uma onda irresistível que tanto medo causa ao latifúndio e ao governo. Ele lembrou que o programa da Revolução Agrária, o PADDP – Programa Agrário de Defesa dos Direitos do Povo, é o que está sendo aplicado ali nasáreas Raio do Sol e Canaã: 1º tomar o latifúndio, cortar as terras por conta e distribuir para os camponeses pobres sem terra ou com pouca terra; 2º avançar na produção cada vez mais cooperada e com instrumentos e ferramentas mais avançados; 3º os camponeses tomarem o Poder político em sua área através da APP – Assembléia do Poder Popular onde é o povo quem decide sobre tudo o que lhe diz respeito. Destacou que a mesma cerimônia que estava sendo realizada ali naquele dia também foi realizada em Jacinópolis (Rondônia), no Nordeste, Goiás e Minas e que temos que continuar no caminho da Revolução Agrária, seguindo aplicando o PADDP e mobilizando famílias para tomar mais latifúndios, pois quanto mais camponeses (organizados) tiverem a nossa volta mais poder teremos.

O outro coordenador da LCP falou da falência da reforma agrária do governo e perguntou“– O que o Incra, o velho Estado fez pelas áreas Raio do Sol e Canaã?”. E respondeu em seguida: “– Nada!”. Tudo o que foi feito ali – tomada do latifúndio, corte das terras por conta e distribuição para as famílias, produção grande e diversificada, construção de estradas, barracão da Assembléia, expulsão de oportunistas e espertalhões, o povo tomando todas as decisões, exercendo o Poder Político na área – tudo isto foi feito pelo povo, unido, organizado, aplicando o PADDP e os princípios da Revolução Agrária, dirigidos pela LCP. Isto é o Poder Popular que o Certificado de Posse das Terras simboliza. “– Vencemos uma etapa importante, mas devemos continuar trabalhando e lutando juntos.”

“Este lote é meu, ninguém me tira!”

Então começou a entrega dos Certificados de Posse das Terras a cada família ali presente. Um por um foi à frente, recebeu seu Certificado, assinou e posou para a foto que será guardada como lembrança de um momento muito feliz, de um grande sonho realizado.

Assim que recebeu seu Certificado uma camponesa disse decidida: “– Este lote é meu, ninguém me tira!” Este era o sentimento de todas famílias ali presentes.

Para o encerramento da Assembléia todos de pé cantaram o hino “Conquistar a Terra” e gritaram as consignas da luta.

Depois foi servido à vontade refrigerante bem gelado arrecadado pelos contribuintes do Canaã e o almoço, que apesar de simples, estava delicioso, muito bem preparado pelas cozinheiras com a arrecadação de vários camponeses das áreas.

Todo mundo satisfeito, lotaram o ônibus, pago pela arrecadação feita entre os camponeses, e foram para o campo. Chegando lá, uma forte chuva recebeu os camponeses, nada que desanimasse. Passado o temporal, um grupo de jovens foi jogar vôlei e os homens foram jogar futebol. Foram duas partidas de Raio do Sol contra Canaã. O placar não importa muito porque independente do resultado todos puderam sentir o espírito que pairava no ar: felicidade, união, decisão de seguir lutando e confiança no Poder do povo. O POVO QUER Só O QUE é SEU, TUDO!



Relatos de mulheres e homens do Raio do Sol e Canaã

 “A área mudou muito desde quando chegamos aqui, era só mata e capim. Hoje não,
está cheia de roça e criação.”

 “Se eu não estivesse aqui estaria na cidade sofrendo humilhação de patrão ou
desempregado, porque na minha idade ninguém quer saber de dar emprego. E nem sei qual
seria o futuro de meus filhos...”

 “Na cidade você tem que comprar de tudo e nem sempre você tem condições e acaba
passando necessidade. É triste ver um filho te pedir uma coisa que é de precisão e
você não poder dar. Aqui não, temos de tudo e com fartura.”

 “Antes da Liga chegar aqui no Canaã a direção que tinha tratava a gente mal, com
grosseria e não queria que entrássemos pros lotes. A gente ficava 'furando rede' em
acampamento e eles viviam na cidade comendo o dinheiro de venda de lote. Vendiam o mesmo
lote duas, três vezes, expulsavam família, era só falcatrua... Agora não, está todo
mundo em sua terra produzindo. Em apenas um ano fizemos tudo isto aí que você pode ver
se andar por nossas linhas. E é só o começo!”

 “Sofremos muito pra conseguir o que temos hoje. Alguns companheiros novos chegaram
depois e não sabem, mas companheiros deram o sangue aqui. Não podemos esquecer isto.”

 “Conseguimos tudo isto graças a união do povo e à Liga que só veio trazer coisas
boas pra nós.”

 “Estou muito feliz com o Certificado, muito feliz mesmo. Eu já estou no Canaã há
oito meses, meu marido veio primeiro, eu não gostava muito, era muito dificultoso, mas
agora já temos nossa casinha de madeira. Sempre foi um sonho meu e de meu marido que
agora conseguimos realizar.”

 “Estávamos na Assembléia, o companheiro queria marcar um dia para puxar a madeira
pro barracão, aí uma companheira propôs puxarmos no dia mesmo. Achei certo porque já
estávamos todos lá, se fosse pra eu voltar outro dia seria mais difícil, moro há 4 Km.
Eu, estes meus dois meninos, todos ajudaram a puxar as tábuas. O que o homem faz que a
mulher não pode fazer? Nada!”

 “Achei muito importante termos prendido o ônibus escolar, pois assim conseguimos que
ele fosse também no Raio do Sol. Não fosse isso meus filhos teriam que morar na cidade,
porque eles não podem ficar sem estudar. Agora não, eles vão morar aqui comigo. Estou
muito feliz!”

 “Os filhos do prefeito, do juíz estão estudando, mas eles não estão nem aí pros
filhos do pobre. Não colocam escola nem ônibus pra buscar nossas crianças e ainda
ameaçam colocar os pais no conselho tutelar porque estão deixando o filho sem estudar.
Tudo isto é uma forma de pressionar pra gente sair da terra. Mas não vamos sair.”

 “Eu sou do Canaã, o ônibus escolar já estava vindo pegar meus filhos, mas mesmo
assim eu achei certo e apoiei os companheiros do Raio do Sol porque os filhos deles iam
ficar sem estudar. Isto não é certo, o direito é de todos, não é?! Por isso, mesmo
que o problema de meus filhos já estava resolvido eu ajudei na luta deles. Temos que nos
unir.”

 “Da próxima festa que fizermos temos que juntar as mulheres e preparar tudo antes pra
ficar melhor e não atrasar o almoço. É fazendo que a gente aprende e faz melhor da
próxima vez.”

 “Eu só saio da minha terra morta!”

Fonte: Resistência Camponesa

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