Porto Velho (RO) terça-feira, 1 de julho de 2025
opsfasdfas
×
Gente de Opinião

Opinião

Francisco: o Papa do povo e da inovação


António da Cunha Duarte Justo - Gente de Opinião
António da Cunha Duarte Justo

Num mundo marcado por divisões e conflitos, o Papa Francisco emergiu como um farol de humanidade e esperança. O seu pontificado foi uma lição viva de simplicidade e proximidade, como ilustra o breve diálogo que manteve com um fiel no Vaticano:

— “Bom dia, Santo Padre!”

— “Bom dia, Santo Filho!”

Esta resposta, cheia de ternura e igualdade, sintetiza o espírito de um homem que sempre Cristo no rosto do outro.

Um Legado de Paz e Reforma

Francisco foi o Papa da paz e do povo. A sua mensagem, centrada no amor ao próximo e na justiça social, ecoou além das fronteiras da Igreja. Quando exortou o mundo a levantar a "bandeira branca" da reconciliação — inspirado no mandamento de Jesus: "Ama o próximo como a ti mesmo" — desafiou os poderes que alimentam a guerra. “O amor e a paz são uma e a mesma moeda”, insistia. A guerra não pode ser optada como meio para se alcançar a paz!

A sua crítica à indiferença e à violência foi incansável. Citando as palavras de Cristo — "Guarda a tua espada no lugar, pois quem pela espada vive, pela espada morrerá" —, lembrava-nos que a verdadeira espada é do discernimento, não a das emoções não resolvidas. "Enquanto valorizamos mais os bens materiais do que o milagre da vida, a mensagem do Evangelho ainda não nos alcançou."

Um Reformador com os Pés na Terra

Francisco revolucionou com gestos simbólicos: decidiu ostentações, preferiu viver em Santa Marta, escolheu ser sepultado em terra na Basílica de Santa Maria Maior e mudou-se dos marginalizados. A sua primeira visita a Lampedusa, onde denunciou a “indiferença desenfreada” perante os refugiados, marcou o tom do seu papado. Em 2013, ao declarar “Se uma pessoa é gay e procura o Senhor de boa vontade, quem sou eu para julgar?”, abriu portas que muitos julgavam fechadas.

Foi um reformador: mudou-se dos marginalizados, abriu a discussão sobre temas difíceis (como a colhida a divorciados e pessoas LGBTQ+) e incentivou uma "ortodoxia dinâmica", fiel ao Evangelho, mas adaptada às necessidades pastorais.

Promoveu sinergias, incentivando a política e a Igreja a abandonar o espírito de competição e a "encontrar Jesus nas pessoas". Nas exortações Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho) e Amoris Laetitia (A Alegria do Amor), reafirmou o espírito do Concílio Vaticano II, desagradando teólogos mais tradicionalistas. Para ele, as controvérsias (1) eram um "Método de Descoberta da Verdade", e as discussões, conveniência. O seu legado não deixa uma igreja indiferente porque convidada a não se fixar apenas em doutrinas que embora provadas deixam a desejar no aspecto pastoral (moral sexual).

Desafios e Tensões

A sua abordagem gerou resistências. A Igreja alemã, por exemplo, criticou-o por não ser suficientemente adequada ao espírito do tempo, enquanto outros o acusaram de engenhosidade ao dialogar com o Islão. Francisco insistiu na fraternidade universal, mas a ausência de líderes muçulmanos e judeus no seu funeral — provavelmente devido às suas críticas à guerra em Gaza e ao hegemonismo religioso muçulmano — revela as complexidades desse diálogo.

A sua visão de uma Igreja em peregrina, comprometida com os pobres e aberta à reforma, contrastava com estruturas enrijecidas. Questões como o celibato clerical ou o diaconado feminino ficaram em suspenso, mas o seu chamado à "ortodoxia dinâmica" — fiel à doutrina, mas pastoralmente criativa — permanece um desafio.

(O papa terá de orientar-se entre a “verdade revelada” e a interpretação que a natureza e a História expressa no seu desdobramento, o que implica a capacidade de manter a igreja una e de escolher a melhor pedagogia para se fazer compreender num mundo secular cada vez mais exposto à formatação da consciência social e pessoal por elites desalmadas. Almas assim formatadas tornam-se alérgicas a tudo que envolve espiritualidade, o que exige por isso caminhadas mais longas sem recursos a atalhos.) É importante seguir com os tempos sem. cair na tentativa de politização da Igreja especialmente nesta época em que poderes econômicos e ideológicos a atuar globalmente ameaçam levar na sua enxurrada a pessoa humana e tudo o que tenha a ver com valores perenes.

O Adeus ao Papa do Povo

Com a sua morte, a 26 de abril de 2025, o mundo parou. Centenas de milhares de fiéis e mais de 160 líderes mundiais reuniram-se no Vaticano. Trump e Zelensky aproveitaram o momento para um encontro inédito, confirmando o papel da Igreja como mediadora.

Mas quantos aqueles políticos, todos os presentes, eram realmente próximos do seu espírito? Francisco, o primeiro Papa jesuíta e não europeu, viveu como "construtor de pontes", colocando a caridade e o humanismo cristão no centro de sua missão.

O Caminho que Fica

Num mundo racionalista e cada vez mais desumanizador, o seu legado é um convite: Escutar o coração, onde Jesus fala no silêncio. As razões do coração, afinal, transcendem a lógica unilateral da mente.

A Igreja, peregrina na História, enfrentou o dilema de equilibrar a "verdade revelada" com os sinais dos tempos. O Espírito Santo era tanto na instituição quanto no povo — mas o poder espiritual, que concede verdadeira dignidade, não se confunde com o poder político – meramente democrático (como por vezes se fez sentir na Igreja da Alemanha). Permanecerá o desafio: O poder espiritual presente no povo é diferente do poder político em que assenta a democracia; não é legítimo, por isso, confundir o voto individual democrático movido pelo poder político com o voto individual movido pelo Espírito Santo; este é mais abrangente e é o que concede a verdadeira dignidade e a soberania à pessoa, o outro é limitado produzindo dependência e igualdade apenas perante a lei.

Francisco partiu, mas a sua pergunta ecoa: "Quem é responsável pelo que está a acontecer agora?" Num mundo de hipocrisia e medo, a sua vida foi uma resposta: "Só o amor terá a última palavra."

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10032

FESTA DA LIBERDADE

O 25 de Abril do Povo

A revolução do 25 de Abril não inventou a liberdade, mas ensinou-a a dobrar-se — humildemente— tanto à luz que liberta quanto à sombra que corrompe.

Antes do 25 de abril, já sabíamos - conservadores e progressistas - que o sol não se ajoelha perante senhores! Todo o regime é espelho dos que nele caminharam e vício dos que nele se acorrentaram ou temem.

Assim me foi ensinado, na escola de Jesus - pela boca e exemplo de meus pais - aquela escola que liberta, e nunca submete.

Num mundo de senhores e arregimentados, é de afirmar um Abril sem credenciais e que não pede licença: onde a chuva lava o pó de tronos e a traça dos ministérios e onde a soberania nasce de cada passo e não de bandeiras nem de postos, mas em cada peito que ousa avançar!

Liberdade política liberta os corpos, mas a verdadeira liberdade - aquela que é soberana e ecoa nas almas; só o vento a regular, só o espírito a governar!

Quem clama por liberdade e justiça não pode repetir a violência dos opressores: não pode ser espelho de prepotentes; não pode haver monopólios de bem ou de mal!

Liberdade é este canto nascido quando um homem desperta e descobre que traz o céu no próprio sangue. Ela é a memória do céu gravada em cada homem, em cada mulher, em cada criança que nasce para a esperança!

Abril é este grito: de pé, povo livre! Que nunca mais o medo vos dobre! Que nunca mais a sombra vos cale! Que nunca mais o céu deixe de arder em vós!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10028

FESTA DA LIBERDADE

Antes do Abril verificado aos calendários,

eu já bebia a liberdade nos rios —

aquela que não se vê a relógios de senhores,

nem se vende em parlamentos vazios.

O que Abril trouxe foi o dente do tempo

a roer tanto as notas como as mãos:

fez-se luz nos cárceres, sim,

mas também sombra nos corações.

Eu quero o Abril que não cabe em feriados,

o que incendeia sem pedir licença,

onde a chuva lava os nomes dos Estados

e a liberdade é raiz, não cerca.

Sol para o justo e o velho,

terra sem dono, céu sem redea —

que a revolução é uma realidade

começa quando um homem se ergue

e descobre que nunca precisou de soberano.

Liberdade é o canto que nasce

quando um homem descobre

que traz o céu no próprio sangue.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10026

Gente de OpiniãoTerça-feira, 1 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Quarta-feira (25), o Congresso impôs mais uma derrota ao governo do presidente Lula derrubando o Decreto que aumentava o IOF. O governo perdeu mais

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

O esquema que desviou bilhões de reais de contas de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) foi apenas mais um

O Congresso é culpa do eleitor

O Congresso é culpa do eleitor

          O Congresso Nacional do Brasil é, óbvio, o Poder Legislativo e é composto por 513 deputados federais e pelos 81 senadores da República. Es

O Eros e a Busca da Integridade: Entre o Mito e o Sagrado

O Eros e a Busca da Integridade: Entre o Mito e o Sagrado

Em Diálogo com Platão, Jung e a Trindade num Contexto do Sexo como Ritual sagrado A humanidade é um rio que corre entre duas margens: a espiritualid

Gente de Opinião Terça-feira, 1 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)