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Em Paris, singela homenagem ao nosso último Imperador


Bem próximo da histórica igreja parisiense de Madeleine, o antigo Hotel Bedford, situado na rua des Arcades, 17, exibe numa de suas paredes externas uma placa falando de um de seus hóspedes mais ilustres, um brasileiro que por ali passou. Ao raiar a madrugada de 5 de dezembro de 1891, sob o inverno europeu, ele ali morreu, instalado modestamente.  "Nesta casa viveu seus últimos dias o Imperador do Brasil Dom Pedro II, grande patriota, protetor das ciências e das artes, amigo do seu povo", diz em francês a placa colocada pouco abaixo de uma outra registrando que nele também se hospedou, entre os anos de 1952 a 1959, outro não menos ilustre brasileiro, o compositor Heitor Villa-Lobos.

Hoje, o Bedford é um hotel quatro estrelas, deixando em seu passado a condição de um singelo hotel-residência de mais de uma centena de apartamentos. Nele o imperador vivia só depois da morte de sua mulher, a imperatriz Thereza Christina, que encerrou seus dias em Portugal, pouco depois de a Família Imperial brasileira iniciar seu exílio após o golpe de Estado de 15 de novembro de 1889. Uma pneumonia o vitimou no curso de uma saúde já fragilizada pela idade e pela tristeza de seu afastamento da pátria. Era o termo de magnífica história de vida que começou igualmente num mês de dezembro, no dia 2 do ano de 1825.

Segundo imperador do Brasil, Pedro II foi um modelo de soberano esclarecido, avançado em seu tempo, o que lhe custaria o trono. Ainda criança talvez ele pudesse sentir o peso do cargo que o transformaria em figura única do Império brasileiro. Em 5 de abril de 1831, seu pai o imperador D. Pedro I abdicou em seu favor, deixando o Brasil para ajudar sua filha, a rainha Maria II de Portugal, destronada por seu tio Miguel. Em seu lugar, nomeou o Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, como tutor do pequeno imperador, deixando-o assim aos cuidados de seus súditos brasileiros.

Proclamado imperador sob o nome de Pedro II, o jovem príncipe não tinha ainda cinco anos.Os membros das duas Câmaras (Assembléia e Senado) em reunião atribuíram a regência provisória a um triunvirato liderado pelo Marquês de Caravelas e encarregado de manter a ordem em todo o País até a maioridade do imperador menino. Aos 15 anos, seus dons singulares de inteligência, equilíbrio e bom senso fizeram com que o Partido Liberal considerasse oportuno apresentar uma proposta formal de declaração de sua maioridade, votada pelas duas Câmaras, sem nenhum voto contrário, em 23 de julho de 1840. As ruas se encheram de uma alegria incontida e uma comissão política aclamou o jovem príncipe como Pedro II, chefe do Império do Brasil.

Pedro II começou efetivamente seu reinado com uma generosa anistia geral, que lhe valeu imensa simpatia de toda a sociedade brasileira da época. Desde o início de seu governo ele dedicou-se a erradicar os focos de desordem e dissidência, no que foi ajudado por um valoroso chefe militar, possuidor de reais qualidades de negociação e diplomacia, o general Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. A par disso, trabalhou pelo restabelecimento do Conselho de Estado, em novembro de 1841; e pela promulgação do Código de Processos no mês seguinte. Foram pedras fundamentais de uma reconstrução do Estado, que marcariam suas atividades como monarca, perfeitamente apto a assumir suas altas funções.

Um dos biógrafos que melhor descreveu a imagem de Pedro II, o historiador João Ribeiro observou: "Os dons de inteligência do soberano, que já se revelaram na época de sua maioridade, pouco a pouco se desenvolveram à medida que seu caráter se fortaleceu nas experiências dos homens e dos fatos. Simples e modesto, mas sem perda de distinção; generoso e desinteressado; sábio sem afetação; exemplo de todas as virtudes domésticas ele ganha mais que a popularidade. Ganha a simpatia respeitosa das massas".

Muitas vezes Pedro II esteve em desacordo com seus ministros porque, não pertencendo a nenhum partido, compreendia muito melhor os interesses nacionais.  Apesar disso, em alguns períodos de seu reinado o panorama político foi tormentoso e pouco seguro. A guerra civil eclodiu no Sul do País e só teve fim em 1845. Movimentos insurrecionistas surgiram em São Paulo e Minas Gerais em 1842. Houveram também guerras externas, não somente contra a Argentina, mas ainda contra o ditador paraguaio Solano Lopes, que após longas batalhas foi derrotado na sangrenta epopéia de Aquidaban, em 1º de março de 1870.

Durante esta guerra foram admiráveis as constantes provas dadas por Pedro II de sua rara coragem pessoal e solidariedade fraterna para com a população. Sobretudo, com a do Rio Grande do Sul, invadido por Lopes em 1865 e submetido a atos de selvageria. Com tais atitudes o Imperador conquistou a gratidão e o amor de seus súditos que o saudaram calorosamente por sua presença nas horas de perigo; e pelas medidas por ele tomadas para favorecer e proteger os habitantes das regiões mais ameaçadas.

Nos anos de paz, Pedro II aproveitou para realizar um antigo projeto, o de visitar e conhecer a Europa, o que aconteceu em duas ocasiões - 1872 e 1875 - sempre custeando suas próprias despesas. Em solo europeu distinguiu-se como soberano de inteligência superior e vasta cultura, muito interessado pelas atividades intelectuais. Retornou ao Brasil deixando imenso prestígio nos países em que visitou.

Desejoso de orientar seu povo em todas as direções e em um real espírito de progresso construiu linhas ferroviárias, desenvolveu as comunicações telegráficas em todo o Brasil e foi o primeiro brasileiro a ter um telefone sobre sua mesa de trabalho. Fez adotar o selo postal no Brasil pouco após a Inglaterra e bem antes da França (1848). Aplaudiu entusiasticamente a medida de sua filha Isabel (então regente) ao assinar a "Lei Áurea" acabando com a escravidão em nosso País. Seus contemporâneos atribuem-lhe extrema bondade e generosidade. Custeava os estudos de jovens pobres, mais uma vez com seus próprios recursos, entre  eles o conhecido compositor campineiro Antônio Carlos Gomes e até o jovem Deodoro da Fonseca, que o derrubaria e o exilaria estando no comando do Exército como marechal.

Ao ser destronado em 15 de Novembro de 1889 partiu para o exílio, sempre pensando em seu amado Brasil. Após ter-se recusado a receber do governo republicano cinco mil contos de réis (equivalentes a 4,5 toneladas de ouro), Pedro II morreu modestamente no Hotel Bedford em 5 de dezembro de 1891. Do republicano governo francês ele recebeu honras fúnebres de Chefe de Estado e da realeza européia as homenagens devidas ao seu imperial status. Do Brasil, a irritação do governo provisório protestando pelo reconhecimento oficial ao ex-soberano brasileiro.

Pedro II, que falta fazem teus exemplos no Brasil de hoje!

Astrid Beatriz Bodstein
Historiadora e jornalista

[email protected]
www.brasilimperial.org.br

 

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