Sábado, 16 de setembro de 2023 - 09h57
Quando
era adolescente e andava na escola, meus pais, muitas vezes, diziam-me: "
Estuda, para vires a ser alguém!" Mas eu não entendia bem o que era
ser – " Alguém".
Envelheci,
passei sarilhos e cadilhos, meditei e observei a vida, não com olhos de quem a
vive, mas como mero espectador, e conclui: ser "Alguém" – para
muitos, – é entrar numa Faculdade. Obter licenciatura. Alcançar cargo de relevo
e auferir milhões.
Entra-se
na escola não para se instruir e adquirir cultura, que possa servir a
sociedade, mas para se sobreviver nesse mar encapelado, que é a coletividade, e
se possível, vir a ser – " Alguém".
Logo
que se dá os incipientes passos, pretende-se que o menino seja o melhor e superior
aos condiscípulos da escolinha.
Assim
se inicia, na escola, a ser – "Alguém".
Se
por infelicidade, fraqueza de memória ou estranha psicose, fracassa, começa a
ser – " Ninguém".
No
correr dos anos o "Alguém" forma-se, obtêm o pomposo título de
"doutor", não parara servir, mas para ser servido. Alguns, ainda
alimentam o desejo (sádico?) de mandarem e humilharem os "Ninguém"
Há, felizmente, muitas honrosas exceções.
Outros,
não obtendo o grau académico, mas por herdarem sobrenome ou título nobiliárquico,
julgam-se superiores, e portam-se, igualmente, como alguns doutores.
O
velho Conde de Campo Belo, Homem de grande cultura, que tertúliava no Café
Ceuta (Porto) aconselhava, deste modo, o filho, estudante universitário: "
Lembra-te que a fidalguia não traz privilégios, mas sim, obrigações".
Obrigações,
bem pesadas, de levar vida honrada e conduta exemplar, respeitando, desse modo,
a memória de ilustres antepassados.
D.
João de Castro, recomendava o filho ao enviá-lo em socorro a Dio: "
Fazei por merecer o apelido que herdaste, recordando-vos que o nascimento
em todos é igual, as obras fazem os homens diferentes".
Ninguém,
de bom senso, se deve considerar superior: pelo apelido, pelo grau académico ou
pelo título de nobreza ou ainda pelos bens que possui
Todos
nascemos do mesmo modo e parecemos da mesma forma.
Todos
precisamos uns dos outros, e com o rodar dos anos, após a morte, todos se
igualam. Todos se tornam desconhecidos, até para os descendentes, passam a ser
meros antepassados, sem nome, como disse Cecília Meireles.
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