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Crônica

O suco


Luiz Albuquerque  - Gente de Opinião
Luiz Albuquerque

Existem coisas que demoram a serem adotadas ou compreendidas pelos habitantes das várias localidades do interior da Amazônia. Existem até algumas palavras que mudam, se não de sentido, mas no modo como são ditas. Na região do médio e do baixo Rio Amazonas, por exemplo, o guaraná chega a ser chamado de guaranãn. Em outros casos, a letra R comumente é trocada pela L, ou vice-versa, em palavras como “garça” (que fica “galça”), ou “alguns” (que vira “arguns”).

Este fato que conto aconteceu aí pela década de 1970 em Parintins, hoje famosa pelo seu festival anual, quando acontece o confronto dos bois-bumbás Garantido e Caprichoso (não necessariamente nesta ordem, esclareço, antes que algum simpatizante de um deles queira me bater por eu ter colocado o nome de um boi depois do nome do boi contrário). O Festival alí é uma festa espetacular, majestosa, que está entre as mais bonitas do mundo.

Pois bem, naquela cidade alguém resolveu inaugurar a primeira casa de lanches que por lá se teve notícia. Se não me falha a memória, a tal lanchonete, ou lancheria como falam os gaúchos, ficava perto da Igreja Matriz, ao lado dum hotel, que era onde eu me hospedava quando por lá estava.

E aí inauguraram a lanchonete. Coisa simples, servindo refrigerantes, pastéis, coisas do gênero. O atendente, um rapazinho da terra, era gentil, como quase todos que por ali nascem. Mas tal gentileza do caboclo amazonense nunca deve ser confundida com covardia, assim como não deve ser considerada como característica única daquele povo, pois têm brio, e quando se sentem desafiados, são valentes. Se assim não fossem, certamente não conseguiriam sobreviver às dificuldades que a região, com sua natureza selvagem, impõe.

Aconteceu de certo dia, eu e um colega de firma - um cara metódico, sério exigente, chegando a ser chato - fomos à trabalho até àquela cidade.  Era a primeira vez que ele ia ao interior do Estado.

Naquela viagem ele estava achando tudo ruim. Reclamou do avião, do hotel, enfim, fez um monte de reclamações.

Já no primeiro dia não gostou do café da manhã do hotel. Sugeri-lhe, então, que comesse algo na lanchonete. Ele foi. Escolheu um salgado, no que foi servido. Em seguida, pediu:
“Quero um suco!”
“Como?” – o atendente, um rapaz da região, se assustou.
“Um suco. Você não entendeu?”
“Desculpe, mas o senhor está me pedindo que eu lhe dê um suco?”
“Claro! Eu quero um suco. Afinal, você é surdo, por acaso?”
O rapaz, calmamente, saiu de trás do balcão, postou-se à frente do meu amigo, fechou os punhos e desferiu-lhe um violento “soco” no nariz, derrubo-o do banco.  Tranquilamente o atendente voltou para o seu lugar enquanto falava para que todos ouvissem:
“Vocês viram? Foi ele quem pediu que eu lhe desse um suco. Até me ofendeu, perguntando se eu era surdo. Não foi?”
Os outros clientes, unanimemente, concordaram.

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