Memórias de um cirurgião: o começo

O médico deve dar ao paciente que sofre uma impressão de segurança, confiança e serena compreensão humana, despertando nele a convicção de que saberá fazer tudo aquilo que for necessário.

       T. R. Harrison

Entrei cedo na faculdade, graças à devoção motivadora de minha querida mãe, a bela e sempre afetuosa, Alzenita Amaral Gondim, amada por todos que a conheceram, de quem sinto imorredoura saudade, e pela dedicação à medicina do meu pai, o Dr. Hamilton Raulino Gondim, que a praticou sob a égide da ética e dos sentimentos humanitários.

Minha ansiedade de aprender logo noções de cirurgia, fez-me frequentar prontos-socorros desde o primeiro ano de faculdade. Nas férias, aproveitava o tempo ocioso para frequentar centros cirúrgicos.

Aos 21 anos, formei-me em medicina. Estudei muito, por isso, ao concluir o curso, fui aprovado no primeiro concurso para médico residente. Cumpri residência médica em cirurgia nos período de 1981 a 1983, no Hospital de Clínicas Pedro Ernesto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde tive o privilégio de conviver e aprender com grandes mestres da cirurgia, como os professores Carlos Alberto de Andrade Coelho, Mariano de Andrade, Humberto da Silva Peixoto, Ronaldo Gazola, João Cardoso de Castro, Ronaldo Salles, José Augusto Tavares da Silva e outros.

Após esse período formador, retornei a Porto Velho para trabalhar no então recém-inaugurado Hospital de Base Ary Pinheiro (HB) que, para minha felicidade, tinha como diretor-geral o meu cunhado, Dr. Viriato Moura, um visionário e amante do novo e da tecnologia. Com seu apoio, fiz as primeiras punções de veias profundas; seguindo os ensinamentos de Dudrick e colaboradores, implantei a Nutrição Parenteral Total, que salva tantas vidas, e passei a utilizar uso de grampeadores automáticos lineares e circulares.

Como chefe do Serviço de Cirurgia daquele complexo hospitalar, estruturei a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, a Comissão de Compra de Material Penso e Permanente, evitando o desperdício, visto que as compras tinham o aval dos médicos; intensifiquei a colocação de telas de polipropileno nas hérnias inguinais e ventrais, que já existiam de modo tímido. Com ajuda de cirurgiões de grande envergadura, que já estavam aqui, como o Dr. Gabriel Rezende e Misvald Cardoso do Valle, e, depois, do Dr. Victor Villar, fizemos do HB o maior e melhor hospital cirúrgico da região Norte. Havia, naquele tempo, uma salutar competição para saber quem era o cirurgião que mais operava e com menos complicações, cujo maior beneficiado era o paciente. Bons tempos!

Vivíamos o dia inteiro no hospital; os pacientes nos encontravam facilmente, através de chamados que eram ouvidos nos autofalantes distribuídos em todo o hospital. Naquela época, havia poucos especialistas, por isso éramos instados a fazer, rotineiramente, também cirurgias vasculares, torácicas, coloproctológicas, oncológicas e até cardíacas — estas nas lesões de urgência, em pacientes com iminente risco de morrer. Preciso dizer, para ser justo, que dispúnhamos de todas as condições motivadoras para que agíssimos assim: não nos faltavam materiais, medicamentos, condições estruturais e apoio de todos os envolvidos nesse processo.

Isso foi apenas o começo; de lá para cá mais de quatro décadas se passaram, mas continuo com o mesmo entusiasmo, a mesma dedicação, enfim, o mesmo amor pela medicina, mormente pela cirurgia, especialidade em que me encontrei de corpo e alma, que me faz cada vez mais feliz na medida em que sinto que minha atuação profissional tem contribuído para que eu cure meus pacientes ou minimize seus sofrimentos e,  se isso não for possível, que os console.

*O Dr. PAULO GONDIM é cirurgião geral e videocirurgião., Pós-graduado em Cirurgia Minimamente Invasiva pelo IPEMEC-CETREX, Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (Sobracil), Membro Titular da Sociedade Brasileira de Hérnia e Parede Abdominal (SBH), Especialista em Cirurgia Geral pelo CBC, Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva,, Especialista em Cirurgia Videolaparoscópica pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica, pela Associação Médica Brasileira e pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Especialista em Cirurgia Geral pelo Conselho Federal de Medicina e o responsável pelo Centro de Videocirurgia do Hospital Central. Contatos:[email protected], WhatsApp 8100-3949, @drpaulogondim e #drpaulogondim.