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Crônica

Ideologia Carnavalesca


Ideologia Carnavalesca - Gente de Opinião

Embora as eleições municipais ainda estejam distantes, grupos partidários já começam a se articular em volta de um (a) possível candidato (a), as ciganas se alvoroçam no manuseio do baralho e já arriscam previsões: desta vez, segundo dona Zoroastra, Porto Velho será governada por uma mulher. Será? Robson Oliveira, Guru das Evidências, depois de retirar a toalha xadrez que envolve o seu globo espírita e ajustar as lentes de sua luneta astral, arregalou os olhos da razão, ligou o notebook e, diante de tantos pré-candidatos, escreveu: Ideologia! Pra completar eu recebi um comentário inusitado de um desconhecido leitor de Portugal, elogiando minha crônica Ideologia Carnavalesca, escrita há quase dois anos.  Resolvi bisar o texto, ao menos para expulsar de meu cérebro os neurônios com complexo de Alzheimer, me desculpando com o confrade Robson pela brincadeira. 

Quando a gente cursava o primeiro ano da faculdade, a palavra ideologia era apresentada ao calouro, com todos os possíveis adereços semânticos, deixando a gente com ânsia de conhecimento, com aquela vontade de saber o verdadeiro significado daquela palavra/instrumento de dominação que age por meio de convencimento, persuasão, e não pela força física, alienando a consciência humana. Naquela época quase todos os jovens eram sonhadores marxistas/comunistas e acreditavam que a ideologia da classe dominante tinha como objetivo maior manter os mais ricos no controle da sociedade.

O tempo foi passando e a palavrinha foi ampliando seu significado, deixando os universitários convictos do saber e vaidosos com o conhecimento: ideologia fascista, comunista, democrática, capitalista, conservadora, anarquista, nacionalista e, mais recentemente, contrariando tudo que se sabia sobre o conjunto de ideias e princípios que davam origem a uma ideologia, apareceu a ideologia de gênero, mas não é esta a razão de nossa reflexão. No momento basta que saibamos que existem ideologias políticas, religiosas, econômicas e jurídicas e que uma ideologia se distingue de uma ciência, porque não tem como fundamento uma metodologia exata, capaz de comprovar as ideias.

Cinquenta anos depois, a ideologia comunista, disseminada na Rússia e em um punhado de outros países, visando a implantação de um sistema de igualdade social, perdeu força, transformando a Rússia num país capitalista, mas um capitalismo diferenciado, onde a eleição, dita democrática, é manipulada pela força, para que o chefe da nação permaneça no poder por um longo tempo. Na prática, a ideologia russa putiana mascara a realidade, adotando um caráter expansionista e autoritário.

A vontade de Putin em ampliar seu poder na Europa e no resto do mundo é tão grande, que ele se jogou numa aventura louca, declarando guerra a um vizinho, simplesmente porque o tal vizinho, a Ucrânia, é mais simpático à ideologia europeia, onde se prega a liberdade de expressão, o estado laico, o livre comércio, enfim uma superestrutura composta por diversas representações que compõem a consciência. A ideologia de Putin, amparada no egocentrismo, nem na China encontrou eco, demonstrando ao resto do mundo que qualquer atitude que Putin venha a tomar, é a atitude de um perdedor, porquanto, no dizer do poeta John Donne, nenhum homem é uma ilha, completo em si próprio; cada ser humano é uma parte do continente, uma parte de um todo.

De todas as ideologias, a que mais intriga é a ideologia política. No Brasil pode-se dizer que ideologia política e carnavalesca são a mesma coisa. Agora mesmo, enquanto o resto do mundo tenta salvar o povo da Ucrânia, o presidente brasileiro defende a neutralidade carnavalesca. Nem a Suíça conseguiu permanecer neutra.

Em Rondônia, quem poderia imaginar que o coronel Marcos Rocha, do PSL/UNIÃO, e o prefeito Hildon Chaves, do PSDB, vestiriam a mesma fantasia, dançariam no mesmo bloco partidário, na campanha para governador do estado, e que distribuiriam serpentinas e confetes à população estupefata, como se fossem termos de uma ideologia carnavalesca, pela permanência no poder. Parece que eu ouvi o prefeito cantando Cazuza, a plenos pulmões: “Meu partido é um coração partido...Os meus sonhos foram todos vendidos, tão barato que eu nem acredito. Ideologia, eu quero uma pra viver, meus inimigos estão no poder, aquele garoto que ia mudar o mundo, agora assiste a tudo em cima do muro”.

Resta ao povo esquecer as mortes violentas da guerra do outro lado do mundo, dar os braços à pandemia e sair dançando pelas ruas de Porto Velho, no bloco dos sujos, ignorando a sujeira que rola na ideologia política. Ideologia, eu quero uma pra viver.

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