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Crônica

Depressão, frescurite?


Depressão, frescurite? - Gente de Opinião

Quando percebi o esforço do confrade da ARL (Academia Rondoniense de Letras Ciências e Artes), Reginaldo Trindade, pela agitação do MDC (Movimento dos Depressivos Conhecidos), como resposta ao tratamento desdenhoso que a sociedade dá à depressão, resolvi relatar a minha experiência, na expectativa de que meu testemunho seja mais um horizonte, para alguém que luta ou já lutou contra a depressão.

Imaginem-se presos a uma enorme caixa, sem janelas, tudo escuro e uma imensa vontade de não fazer nada. Não havia vistas. Não havia janelas que me apontassem o cenário. Essa era a sensação que me atormentava, quando as ondas da depressão começaram a varrer as pegadas da praia da minha mente. Não ouvia ninguém, sequer percebia minha própria voz, como se alguém invisível estivesse me sufocando, como se o ar, ao entrar no meu corpo, pela respiração, estivesse causando desordem cerebral, mas não podia culpá-lo, pois fui eu que deixei a janela da alma aberta. Difícil controlar o lado direito do cérebro, sempre cheio de emoções, imaginações, fabulações, desejos, visões, esperanças. Maldito cérebro de dupla face, duplo hemisfério, capaz de influenciar o outro lado, o da razão, o da lógica. Que tal tentar ser o maestro do seu próprio corpo, traçando sinapses entre os neurônios dos dois hemisférios, com a batuta da consciência? Sonho meu!

Antigamente eu não sabia que estava sofrendo de uma séria enfermidade, aumentava o consumo de café, fechava os olhos, pensando que não ia ver nada, era pior, via o que não devia, me via! Começava, então, a vontade de morrer. Só a morte poderia parar a agonia da minha cabeça, pensava eu. Embora meus pensamentos estivessem aprisionados, eu me locomovia para todos os lados, mas não tinha noção da direção, aqui e acolá eu parava repentinamente, como se estivesse à beira de um precipício.

O mais complicado era que, essa estranha sensação, do mesmo jeito que aparecia, ia embora, sem que eu soubesse o tempo de duração. O meu silêncio momentâneo, os olhos apavorados, a vontade de chorar e de não me levantar da cama, eram interpretados pelos que me cercavam como frescurite.

Houve uma época que também eu achava que não estava doente. O sinal de alerta tocou o meu espírito, quando meu sentimento de sobrevivência começou a falar mais alto, a me mostrar que algo estava errado, pois a vontade de morrer não me abandonava. O diagnóstico foi preciso: você está com depressão.

Passei a tomar remédios tarja preta, ficava leso, até o dia em que resolvi, com a ajuda de um psicoterapeuta, reciclar meus pensamentos, aprendi a controlar minha respiração e a meditar. Hoje já não medito mais e sinto como se a depressão tivesse se adaptado ao meu novo pensar. Há quem diga que eu aprendi a conviver com a depressão. O fato preocupante é que ela retorna e tem rompantes oriundos do outro, lembram de Sartre?

Nesse meu novo processo natural de reciclagem mental, tomei como base princípios de uma filosofia de vida conhecida como Taoísmo, e desde então venho aprendendo a me melhorar, cada vez mais. Tao quer dizer caminho. Não tenho religião nem tomo remédios. Procuro viver em harmonia com a natureza, tentando atingir o equilíbrio, ou o Tao. De tudo que aprendi o que mais me ajudou foi o relativo desprendimento do mundo material (ninguém consegue se desvincular totalmente, ele é inerente) e a forma de lidar com a corrente dos desejos, porquanto, ao realizarmos um, outro surgirá em seu lugar, ensina o mestre. Identificar de que lado vem o desejo, se da lógica ou da emoção, é de suma importância.

Mediante exercícios e novos pensamentos, elimino de dentro de mim os desejos inúteis. As coisas vão acontecendo naturalmente, conforme o equilíbrio, a harmonia entre o bem e o mal, de certa forma centrados na dualidade cerebral.

Não é fácil, depende de muito estudo, dedicação e paciência. O Tao Te Ching, livro sagrado do Taoísmo, escrito por Lao Tsé, é chamado em português de livro do Caminho e da Virtude. É um livro de 5.500 palavras em que estão contidos os ensinamentos filosóficos adquiridos por Lao Tsé na busca pelo caminho.

Espero que este singelo texto o ajude a controlar a depressão, a descobrir o caminho! O meu ainda é uma vereda, cheia de pedregulhos e incertezas. “No meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas.” (CDA)

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