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Artigo: MARACUJÁ EM FAMÍLIA


 
QUADRILHA E BUMBÁ, AO SABOR VATAPÁ DE 20 – NEM TODOS PODEM!

Por: Altair Santos (Tatá)

E lá vai a família, que adentra no Arraial Flor do Maracujá. A Mãe segura firme na mão do filho e roga a Deus que a criança não peça mais que uma volta na roda gigante (R$ 4,00), um saco de pipoca (R$ 1,00) e um guaraná (R$ 2,00). O garoto, sem piscar, faz um olhar espichado em direção aos brinquedos do parque, cujas luzes rebrilham, aguçando ainda mais a sua vontade, fazendo estampar em sua face um incontrolável quero ir. O Pai, enquanto isso, encosta numa barraca e sente o fígado trepidar. Quase vai à lona, tal qual um boxer atingido certeira e violentamente na zona hepática. Motivo: na tabela está grafado, cerveja em lata R$ 3,00. Reflexivo ele faz as contas e caretas, se coça todo, fica injuriado e conclui: forçando a barra dá pra tomar duas e depois ficar chupando o dedo. A patroa após um breve passeio, chega louca por um vatapá e pede ao maridão. O cara amarela, desbota, a mão treme, gagueja ao falar, quase tem um chilique e diz, com suor frio correndo na testa: amor, meu amorzinho, você não quer uma pipoca? é só R$ 1,00, o vatapá tá R$ 20,00, deve ser feito de pão imperial e talvez camarão criado em spa com direito a hidromassagem, acesso à Internet, banho de ervas, etc. Ela entende, mas reivindica em nome da família inteira. Então pros três, uma picanha na chapa e dois guaranás. Aí o cara pira. A cabeça gira mais que o iluminado carrossel lá num canto do arraial. Ele, em fala acanhada sugere: amor, meu amor, meu amorzinho, olha o dinheiro do ônibus na volta pra casa, não podemos gastar muito, a picanha custa R$ 25,00 e ainda tem o tal de 10% do garçon. Que tal um pastel (R$ 3,00) com guaraná??? Breve silêncio... Então deixa pra lá, vamos assistir as danças, diz ela em tom conciliador. Agora espremidos, na beira do curral a jovem senhora observa detalhadamente as fantasias, os passos coreografados. O guri se diverte e ri, com o guarda da quadrilha e o bicho folharal do bumbá, enquanto o pai entoa no íntimo a toada “Quadrilha e Bumbá, ao Sabor Vatapá de 20”, que muito bem expressa a sua encolhida e deprimente realidade junto aos seus, ali no arraial. Nessa hora o peito aperta, quase se arrepende de ter ido. Mesmo assim tem que encarar, seu tempo urge. Daqui a pouco, a esposa e o filho vão estar com sede e uma água mineral vai bem. Ele se antecipa e diz que vai comprar. Receoso ante um majorado preço do precioso líquido, o rapaz faz a sua via crucis por entre as barracas. Seu olhar, mesmo caído, teima em avistar as malfadadas tabelas de preços abalando-lhe as estruturas, esfregando em sua fuça, o torturante informe: cerveja em lata R$ 3,00. O camarada adepto de umas e outras, jamais pensara, forçosamente caminhar no corredor da abstinência ao som do fole junino. Alguns caveiras, começam a lhe roubar a consciência e o prumo. À sua frente um sujeito com uma colorida quantidade de algodão doce lhe faz lembrar do filho mas, temendo pelo custo, sequer ousou saber quanto. A maçã do amor lhe é oferecida por uma atraente jovem e, nem isso fez o comedido cidadão botar a mão no bolso e aventurar-se no investimento. Agora corajoso, comprou a água, deu de beber pro seu rebanho, que, do paraíso da carestia saiu, antes que partisse o último ônibus sentido zona suburbana. Em viagem, o ombro para a exausta amada, o colo para o sonolento guri e a cabeça pra matemática que, ao saculejo do coletivo contabiliza os números de passeio ido e não cumprido: 01 vatapá de R$ 20,00 + 02 guaranás de R$ 2,00 + 01 pastel de R$ 3,00 + 01 água de R$ 1,50 + 01 passeio na roda gigante de R$ 4,00 + um passeio no carrossel de R$ 4,00+ duas cervejas de R$ 3,00 + ônibus ida e volta... Mais tarde, já em casa, parte da família rende-se ao cansaço e dorme pesadamente. O cidadão-pai avança com a madrugada, num dorme-acorda mesclado com pesadelos de quindins não saboreados, cervejas não bebidas...

(*) o autor é musico e vice presdiente da Fundação Iairpuna
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