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Meio Ambiente

Um novo modelo para a Amazônia


Charles Nisz

Ignacy Sachs é conhecido como um "ecossocioeconomista" por sua concepção de desenvolvimento como uma combinação de crescimento econômico, aumento igualitário do bem-estar social e preservação ambiental. Nascido na Polônia, graduou-se em Economia no Rio de Janeiro, fez doutorado na Índia e foi morar em Paris, onde se naturalizou cidadão francês.  Foi pesquisador do Instituto de Relações Internacionais na Polônia e tornou-se, em 1957, Secretário para Cooperação Científica e Técnica da embaixada polonesa na Índia.
Em 1968 foi convidado por Fernand Braudel para integrar o corpo docente da hoje École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), onde criou, em 1985, o Centre de recherches sur le Brésil contemporain (Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo), do qual é atualmente co-diretor.
Trabalhou na organização da Primeira Conferência de Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, realizada em Estocolmo, Suécia, em 1972, durante a qual foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Foi também conselheiro especial da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992.

Sachs visitou esta semana a redação do Amazonia.org.br e conversou sobre desenvolvimento sustentável e Amazônia.  Abaixo os principais trechos da entrevista.
Desenvolvimento Sustentável
"O conceito vem sendo criado desde a conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Estocolmo, no ano de 1972.  Já estava claro naquela época que a sustentabilidade não deveria ser apenas ambiental, mas também social.  Antes de tudo é um princípio de solidariedade com as gerações futuras.  Naquela época cunhamos o conceito de eco-desenvolvimento."
"A viabilidade econômica é apenas um instrumento do tripé.  Para atingir o desenvolvimento sustentável será necessário um pacto entre o Estado, os empresários, os trabalhadores e a sociedade civil organizada."
"No período 1945-75, tivemos alto desenvolvimento econômico e social, mas destruindo o meio ambiente.  Também é possível ter crescimento econômico e proteção ambiental, a despeito de não haver geração de empregos.  Hoje, no Brasil, temos um déficit crônico de trabalho decente."
"O termo desenvolvimento sustentável foi apropriado pelos atores econômicos e acabou reduzido ao crescimento econômico.  Para que ele seja efetivamente contemplado é preciso haver desenvolvimento econômico, ambiental e social."
Consumo X Produção
"A equação do desenvolvimento sustentável deve começar a ser alterada pelos padrões de demanda e consumo.  Temos de fazer oposição a um mimetismo corrente.  Não podemos pensar que haja um modelo de sustentabilidade único, possível de ser implementado em todas as regiões do mundo.  Mesmo no Brasil, o padrão de consumo em São Paulo não é aplicável ao interior do Amazonas, por exemplo.  O padrão de consumo deve ser adaptável às especificidades de cada lugar."
"Também é necessário mudar os padrões da oferta e uso dos recursos naturais e econômicos.  Isso inclui redesenhar as cidades, melhorar o uso dos transportes, da geração, fornecimento, e aproveitamento energético, criação de novas tecnologias.  O último aspecto a ser considerado, são as correções no plano ambiental, no sentido de reverter ou mitigar danos já acontecidos."
Amazônia
"Há duas distorções graves quando pensamos na Amazônia.  A primeira delas é pensar a região como um problema e não como uma solução.  A segunda é ver a região como mera reguladora do clima do planeta em vez de pensar nela como a terra dos povos amazônicos."
"Lá pode estar o nascedouro de uma civilização baseada na energia da biomassa.  Da energia gerada por fotossíntese podemos conseguir alimentos, combustíveis, química verde, fármacos e cosméticos."
"Precisamos de investimento massivo em conhecimento e na qualificação da mão-de-obra.  Em contrapartida, os recursos naturais devem ser usados de maneira eficiente, pois eles são limitados.  No caso do Brasil, mais ainda, pois aqui os recursos financeiros são limitados também."
"É possível desenvolver sem desmatar.  A área já derrubada é equivalente ao território da França - 600 mil km2 - e seria possível desenvolver uma população três vezes maior do que a população amazônica atual.  Mas para que isso aconteça é preciso rever o modelo de desenvolvimento adotado para a região.  A integração na economia globalizada é feita de modo invertido.  Trouxemos a indústria eletrônica japonesa para cá, quando deveríamos ter propiciado desenvolvimento para os produtos locais."
Reservas
"Temos que criar Reservas de Desenvolvimento Sustentável para recuperar e explorar de forma manejada as áreas já desmatadas.  Uma maneira de viabilizar esse manejo seria com agricultura consorciada e reflorestamento produtivo.  Para obter resultados seria necessário conjugar três fatores: zoneamento ecológico e econômico (ZEE), certificação dos produtos e discriminação positiva dos pequenos produtores."
"Considero exagerado manter o percentual de 80% de reserva legal na região, além de criar uma unidade de conservação atrás da outra.  É fácil criar essas reservas no papel e depois não ter condições de fiscalizar o território"
"O maior risco para a Amazônia é a monocultura.  O país já teve experiências danosas com esse modelo desde o período colonial.  Pode ser feita uma exploração até mesmo com o plantio de espécies exóticas, consorciadas com outras culturas.  A idéia é ter sistemas integrados de produção de alimentos e energia."
Reforma agrária
"Reforma agrária não pode se restringir a distribuir terra.  É preciso repassar conhecimento, estruturas, facilitar o acesso aos mercados e ao financiamento ao pequeno agricultor.  O imposto territorial deveria ser progressivo em relação ao tamanho e ao tempo de propriedade.  Isso forçaria a produtividade nessas terras e ajudaria os pequenos produtores."
Expansão da cana
"O cultivo da cana no Pantanal seria extremamente danoso.  Para outras regiões, há necessidade de se avaliar caso a caso.  Por que não plantar a cana em regiões como no cerrado de Roraima?  Com o zoneamento econômico e ecológico poderia ser viável.  É mais importante discutir o regime social e ambiental dessa produção do que em qual região do país esse cultivo será efetuado."
Fonte:  Amazonia.org.br

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