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História

VESPASIANO RAMOS: um poeta enterrado e esquecido em Rondônia



Que ele foi uma personalidade de alto nível cultural, conhecido em todo o Brasil e exterior, quase todo mundo sabe. O que muita gente não sabe, no entanto, é que o ilustre e saudoso poeta Vespasiano Ramos viveu os últimos dias de sua vida em Porto Velho, onde morreu (aos 32 anos de idade) e foi sepultado no dia 26 de dezembro de 1916, no legendário Cemitério dos Inocentes, na Capital rondoniense.

Até hoje é uma celebridade admirada e reverenciada por toda essa nova geração de poetas, dentre os quais citam-se: João Teixeira de Souza (JT), Francisco Matias, Matias Mendes, Emanuel Pontes Pinto, Sílvio Persivo e a sempre irreverente Yêdda Pinheiro Borzacov.

Poeta de um livro só, "Coisa Alguma", com apenas três edições desde 1916, Vespasiano Ramos alcançou a imortalidade com poesias simples e cariciosa, em que tão nitidamente se refletem os seus estados de alma.

Filho de Antônio Lúcio Ramos e Leonília Caldas Ramos, nasceu Joaquim Vespasiano Ramos (Quincas, na intimidade e nas rodas boêmias), em Caxias, no Maranhão, a 13 de agosto de 1884, no largo da Igreja de São Benedito, hoje Vespasiano Ramos.

Segundo o escritor maranhense Walfredo Machado, Vespasiano Ramos "começou a trabalhar no comércio como caixeiro, desde os 13 anos, interessado pelos estudos, aprendia sozinho, sem professor, a um canto da loja, nos momentos de folga, escrevendo versos em papel de embrulho".

No início do século participava de um grupo intelectual formado por Alfredo de Assis Castro, João Rodrigues e Joaquim Luz, época em que criaram o jornal "A Mocidade". Outros jornais surgiram em Caxias, como o "Jornal do Comércio", "O Sabiá", "O Mensageiro", "O Zéphiro" e o "Correio do Sertão", onde eram publicados os versos de Djalma de Jesus - um dos mais conhecidos pseudônimos de Vespasiano Ramos.
Passou grande parte de sua vida em Belém, para onde afluíram homens de letra como Humberto de Campos, Lucídio Freitas e Quintino Cunha.

Para a escritora Yêdda Borzacov, Vespasiano Ramos era "sentimental por índole e por condição de vida, torturado por um grande amor sem esperança". Segundo Francisco Matias, o saudoso poeta procurou na poesia uma compensação para os momentos de intimidade com sua alma, nas horas não dissipadas na voragem da sua boêmia.

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A revelação de um grande poeta lírico, que, mesmo com seus defeitos e descuidos, pode ser colocado no mesmo plano de um Paul Géraldy e muitos poetas amorosos do seu tempo, demonstra toda a beleza de seus versos, quando proclama:


É o amor, o amor, a causa extraordinária
Deste grande sofrer, desta grande tortura:
Só ele faz penar minh'alma solitária
No cárcere de dor desta alta desventura.

Para Matias Mendes, Vespasiano Ramos "não passou de um suave e delicado romântico, notando-se em sua poesia repassada de ternura e melancolia o vestígio daquele legado de tristeza e desalento que nos veio do século XIX".

Entusiasmado pelas publicações de "Sombra Pagã" e de "Carvalho Guimarães", Vespasiano Ramos retornou a São Luís onde residia seu irmão Heráclito Ramos, também poeta, com o fim de custear sua estada no Rio de Janeiro e a publicação de "Coisa Alguma". Além do apoio, ainda ganhou a companhia do próprio irmão. E, das mãos do editor Jacintho Ribeiro dos Santos, surgiu "Coisa Alguma", em 1916. "Tenho o privilégio de possuir um volume dessa edição", ressalta Yêdda Borzacov, lembrando que foram impressos apenas mil volumes.

Segundo os historiadores porto-velhenses, em 1913, foi fundada a Academia Paraense de Letras. Carlos Roque, em sua Antologia da Cultura Amazônica, Vol. II, afirma que Vespasiano Ramos pertenceu a essa Instituição que, muitos anos depois criou um concurso de poesias com o nome de Vespasiano Ramos que foi o patrono da Cadeira nº 40, da citada Academia. Elmano Queiroz, ocupante atualmente dessa Cadeira, fazendo elogio do poeta, diz que "Vespasiano cantou como cantam os passarinhos, improvisando harmonias, sem partitura escrita, mas em arroubos sutis de suave inspiração".

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Um fato curioso e que, talvez, poucas pessoas saibam: em 1948, Anísio Viana, modesto caxiense, juntou algum dinheiro e veio a Porto Velho, com a finalidade única de depositar flores e acender velas no túmulo do poeta, no Cemitério dos Inocentes, deixando-se fotografar. Essa foto, segundo o professor Cid Teixeira de Abreu, se encontra no arquivo da Academia Maranhense de Letras, da qual Vespasiano Ramos é patrono da Cadeira nº 32.

"A glória de um poeta vem quando ele passa a ser recitado, na rua, na praça, nas escolas, nos bares e botequins: é a glória da popularidade. E esta Vespasiano Ramos já tem", acrescenta a historiadora, que é filha do saudoso doutor Ary Tupinambá Penna Pinheiro, que também era poeta e escritor. 

(CLÁUDIO PAIVA, para revista Momento Brasil - Gente de Opiniao)

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