Grupo Peripécias encena texto inspirado em obra de Nelson Rodrigues

  
Há cerca de dois meses recebi do professor Júnior Lopes, do Departamento de Letras Espanhol da UNIR, dois convites irrecusáveis: Assistir a um dos ensaios do Grupo Teatral da Universidade Federal de Rondônia – a Cia. Peripécias, e também para ministrar palestra sobre o dramaturgo Nelson Rodrigues. Aceitei na hora.

Recordo muito bem que era uma manhã chuvosa de domingo. Os ensaios acontecem no prédio do SATED, ali na Sete de Setembro, em frente ao Clube Ferroviário. Quando cheguei, fui apresentado às moças e rapazes do Grupo, e logo em seguida dei início à palestra.

O que chamou minha atenção foi exatamente o título da peça – A nudez nossa de cada dia, obviamente inspirada na obra de Nelson Rodrigues "Toda nudez será castigada". Nesta adaptação fazem parte onze atores, todos integrantes de diferentes cursos da UNIR.

Devo confessar que fiquei surpreso com a coragem do diretor e de seus atores, que para começo de conversa resolveram levar à cena, nada menos que o maior dramaturgo brasileiro, pelo menos em minha opinião, no caso Nelson Rodrigues, autor de 17 peças, e morto em 1980.

Conforme o ensaio evoluía, ia sendo capturado pela tensão crescente que se estabelecia entre os personagens do dramaturgo, mostrados ali através de uma nova visão. Para fazer Nelson Rodrigues, é preciso acima de tudo coragem para se entregar, se despir de si mesmo para mergulhar fundo nos personagens do dramaturgo. Naqueles onze rapazes e moças enxerguei esta coragem, esta entrega assim como absoluta falta de receio de não estar, mas ser a personagem.

Outro dia, encontrei com o diretor do espetáculo, Júnior Lopes que o grupo fará duas apresentações no Teatro do SEST/SENAT, dias 26 e 27 de novembro, às 20h30. Claro que confirmei presença, pois não sou de perde apresentações da obra ou adaptações de textos do dramaturgo pernambucano.

Mesmo inspirado em "Toda nudez será castigada", o texto de "A nudez nossa de cada dia" é um estudo sobre a obra de Nelson, mas incluirá poemas e textos dos próprios atores. A história segue a trajetória de um viúvo, assim como o Herculano, da peça original, que mesmo pertencendo a uma família tradicional acaba se envolvendo com uma prostituta que transforma a sua vida.

Assim como em "Toda nudez será castigada", o texto rondoniense que será montado pela Companhia Peripécias, trata de temas caros ao autor, como hipocrisia, falsa moralidade, inveja, culpa, pecado, castigo, religião, desejo, paixão e sexo, sempre presentes no universo rodriguiano.

Vamos aguardar a estréia de "A nudez nossa de cada dia" para descobrirmos o que nos reservam estes jovens atores que estarão em cena no palco do Teatro do SEST/SENAT. Estou ansioso para ver o resultado deste projeto, no mínimo ousado, polêmico e atual que o público de Porto Velho terá a oportunidade de assistir.

Fonte: Humberto Oliveira