Sábado, 19 de março de 2022 - 14h00
1. ARL –
Gostaríamos de saber se o nobre confrade, que já ultrapassou a barreira dos 80
anos, é bacharel em direito, licenciado em filosofia, já fez mestrado,
doutorado e dois anos em teologia, foi reitor da Unir, chanceler da Faculdade São
Lucas, publicou inúmeros livros, é católico fervoroso e já teve o prazer de ver
um de seus livros nas mãos do papa, ainda tem algum sonho para ser realizado?
José
Dettoni - É uma alegria participar deste trabalho acadêmico da
Academia Rondoniense de Letras – ARL. Se tenho, aos 83, ainda algum sonho? Quem
não sonha (acordado) não vive. Tenho muitos. Alguns são esses: Conhecer mais 20
países, aprender mais 5 idiomas, escrever mais 85 livros, ensinar ESPERANTO e
garantir que, num mês, o aluno sabe falar Esperanto. Aprender a tocar acordeão
e flauta. Sonhos pequenos geram pouca energia interior.
2. ARL –
Nada mais oportuno do que perguntar a uma pessoa com tantas vivências, o que é
a vida?
José
Dettoni - A vida é dinamismo. É um processo dinâmico centrífugo.
Quando esse processo dinâmico centrífugo é consciente, livre e responsável,
temos um ser vivo pessoal. A pessoa tanto mais é quanto mais esse dinamismo é
centrífugo, ou seja, quanto mais é para os outros, quanto mais ama, pois “SER É
AMAR” (Mounier). O SER É AMOR.
3. ARL –
E a morte, é o fim, um recomeço, ou uma passagem?
José
Dettoni - A morte é uma passagem. De uma condição transitória para
uma definitiva. O que morre é a dimensão corpórea, por ser composta; a dimensão
espiritual da pessoa humana não tem como morrer, pois não é composta.
4. ARL –
E a velhice, como poderia ser definida?
José
Dettoni – A velhice é a juventude mais experiente. É bom
e necessário distinguir “velhice” de “idade avançada”. Novo ou velho vale para
qualquer ser vivo, aliás, mesmo os não vivos; diz-se de um cachorro novo -
cachorro velho, árvore nova - árvore velha, cadeira nova - cadeira velha,
sapato novo - sapato velho, mas não se diz sapato idoso, cadeira idosa. Por
quê? Porque sapato, árvore e cachorro não têm a dimensão espiritual. Equiparar
idade avançada (própria de pessoa humana que já experienciou a vida, larga e
longamente), à velhice (própria a qualquer outro ser criado) é atraso
humanístico-cultural.
5. ARL –
Geralmente a gente pensa que literatura repentista é coisa de nordestino, mas o
nobre confrade é gaúcho de Ilópolis, e já publicou vários livros rimados no
estilo literatura de cordel, de onde vem essa paixão?
José
Dettoni - A literatura de cordel é própria do Nordeste, mas o
repente é muito apreciado no Sul, especialmente no Rio Grande do Sul. Desde a
primeira vez que vi uma dupla de repentistas (trovadores), nasceu em mim o
espanto, a admiração, o desafio e o desejo de trovar. No internato em Viamão
(grande Porto Alegre) foi criado um Centro de Tradições Gaúchas (CTG). Entrei
na “Invernada” das Trovas. Na primeira apresentação em público, o “patrão”
anunciou a dupla: o parceiro e eu, cada um com seu rascunho dos versos.
Gentilmente o patrão pediu os papéis, rasgou-os e os jogou fora, nos
apresentando ao público. Foi a melhor lição; até hoje agradeço a Paulo Aripe,
inesquecível. Repentista é repentista, não prepara os versos, os cria na hora.
Paixão é paixão, tanto que meus dois primeiros livros têm como tema o REPENTE.
6. ARL –
O caro escritor é poeta no estilo tradicional, dos que valorizam a métrica, a
rima, etc. O que o nobre confrade pensa dos poetas modernistas, e dos que
pregam que a poesia não precisa de rimas, para atingir os sentimentos do outro?
José
Dettoni - A rima, a métrica e outros adereços estéticos
são vestimentas da poesia, muito usados ao longo da história da arte e ainda
hoje apreciados, mas não são da essência da poesia. Por isso nada contra o
modernismo estético. A arte, e no caso especial a poesia, constrói fontes
dialogantes entre os seres humanos, mas não se prende a técnicas exclusivas nem
a gostos de épocas. Ela é história porque humana, mas não se limita, menos
ainda se esgota, em circunstâncias históricas.
7. ARL –
O nobre acadêmico pertence a duas academias rondonienses – Acler e ARL – o que
o senhor pensa das academias, hoje, em plena pandemia? Muitas, ao longo do
Brasil, estão fechadas.
José
Dettoni - O que alimenta e nutre uma academia é o
espírito acadêmico, o “élan vital” dos seus componentes. Havendo isso, ela(s)
sobrevive(m) a intempéries. Exemplo disso é essa rodada de entrevistas que a
ARL está promovendo. Viva! Viva!
8. ARL –
O que a ARL representa para o confrade?
José
Dettoni - Representa muito: Desde o convite a participar
dessa confraria, se me apresenta triplicemente: como honra, como desafio e como
responsabilidade. É, de fato, uma especial honra pertencer à Academia, honra a
que poucos têm acesso. Essa honra se metamorfoseia em desafio, pois um
acadêmico que não produz frutos acadêmicos é estéril, é acadêmico de casca.
Esse desafio se metamorfoseia em responsabilidade, responsabilidade social,
pois a Academia não pode ser um nicho fechado, inoperante em frutos sociais. A
Academia não pode ser e viver para ela, ensimesmada; sua função social é
importante e deve ser exercida. Ser acadêmico é ser, em parte, responsável pela
sociedade.
9. ARL –
Recentemente, o competente acadêmico foi candidato a deputado estadual pelo
PSB, contudo, mesmo com um invejável currículo e já tendo publicado um livro
titulado Educação Política, não obteve votos suficientes para uma vaga na
Assembleia Legislativa. O brasileiro sabe votar ou é mera massa de manobra?
José
Dettoni - Além de “Educação Política” publiquei “O Voto”.
Ambos enfatizam a importância da dimensão política na educação. Candidatei-me
por coerência com o que publiquei nos livros. Por razões várias, mas
especialmente política, o Brasil não dá a necessária importância à Educação. O
analfabetismo político ainda reina no Brasil. Nosso país, esse “gigante pela
própria natureza”, seria muito melhor se a educação fosse prioridade, como é
nos países desenvolvidos. Esse pode ser um belo e grande desafio para a
Academia.
10. ARL - Guerra
ou paz?
José
Dettoni - Guerra não, paz sim. Mas não paz inerte, paz
calmaria, paz indiferença, paz irresponsabilidade. Guerra é a maior estupidez
humana, a maior incompetência humana, ainda mais no mundo contemporâneo, quando
a humanidade está tão deleteriamente armada, a ponto de poder aniquilar-se por
completo e ainda assim sobrar muita arma de morte. Uma guerra nuclear
exterminadora é possível? Ao longo de toda a história da humanidade não foi
possível, hoje é. Falta EDUCAÇÃO, falta DIÁLOGO. Falta compreender que o PÃO É
NOSSO e falta viver o “...Perdoai as nossas ofensas assim como nós
perdoamos...”
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A escritora, historiadora e Professora de História da Prefeitura Municipal de Porto Velho, mas também, Bibliotecária/Documentalista do IFRO Campus P