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Silvio Santos

Raimundo Almeida - A tapioca e o pé de moleque da Dona Moça


Raimundo Almeida - A tapioca e o pé de moleque da Dona Moça  - Gente de Opinião
Passando pelos galpões onde estão instalados os vendedores do Mercado Central que está em reforma, encontramos a figura simpática da dona Raimunda Almeida, popularmente conhecida como “Dona Moça”, que sentada num banquinho passa as manhãs vendendo tapioca, pé de moleque e bolo de macaxeira em uma bacia. “O preparo da nossa tapioca é diferente do preparo da tapioquinha que se vende nas bancas por aí. Nossa tapioca é feita no forno de fazer farinha e a que leva coco vai ao forno na folha da bananeira; a de Castanha do Pará também é feita no forno de farinha, porém, sem a folha da bananeira”, ensina dona Moça. Dona Moça conta que começou no ramo porque gostava de tapioca e um dia pediu ao seu marido para comprar goma e esse trouxe logo meia lata. “Então disse pra ele, vou fazer tapioca pra vender e até hoje estou vendendo tapioca”. Ao chegar em Porto Velho vinda do seringal Caiari no amazonas, foi trabalhar como doméstica na vila dos militares da 3ª Cia. de Fronteira hoje 17ª Brigada de Infantaria de Selva, foi empregada da primeira empresa de limpeza de Rondônia a Empog que tinha como proprietária a professora Marize Castiel e depois prestou concurso e entrou para o quadro de funcionários do governo de Rondônia na Seduc onde trabalha como merendeira. “Nesse Domingo (ontem), quem vai estar vendendo tapioca é minha irmã Shyrlene Almeida”. Você vai aprender, nessa entrevista com Dona Moça, a preparar um Bolo de Macaxeira e ficar sabendo como é feito o Pé de Moleque. Quer conhecer o sabor da tapioca, do bolo de macaxeira e do pé de moleque da Dona Moça, é só entrar no Mercado Central pela Porta que fica pro lado da Rua José do Patrocínio que ela vai estar lá com sua bacia de tapioca. 

E N T R E V I S T A

Zk – Quer nos dizer o seu nome completo e de onde a senhora veio?
Raimunda Almeida
– Meu nome é Raimunda Almeida. Nasci no interior do estado do Amazonas, num seringal chamado Caiari que fica abaixo de Humaitá.

Zk – Quando a senhora veio morar em Porto Velho foi trabalhar aonde?
Raimunda Almeida
- Aqui passei a trabalhar de doméstica, inclusive trabalhei numa clínica que existiu ali na Pinheiro Machado com a José Bonifácio, a Clinica Santa Marta onde lavava roupa, fazia todo tipo de limpeza e aplicava até soro. Antes de trabalhar nessa clínica, fui doméstica na casa dos militares da 3ª Cia. de Fronteira, aí fiquei por muito tampo até que fui para a Clínica Santa Marta.

Zk – E depois?
Raimunda Almeida – Trabalhei nessa clínica durante cinco anos e então surgiu a empresa Empog e fui trabalha nela. A Empog era a empresa responsável pela limpeza de todos os órgãos do governo, da prefeitura e de praticamente todas grandes empresas que existiam aqui naquela época. A dona era a professora Marize Castiel. Pela Empog trabalhei no Beron; no Banco da Amazônia e tantas outras empresas.

Zk – E esse negócio de tapioca surgiu como?
Raimunda Almeida
– Foi assim! Eu gostava muito de tapioca e então pedi pro meu marido pra comprar uma goma pra mim fazer tapioca, mas, um pouco de goma para fazer tapioca pra gente tomar com café em casa, quando ele chegou em casa foi com meia lata de goma.

Zk – Meia lata, dez litros de goma?
Raimunda Almeida - Pois foi! Aí eu disse, agora Rubens, vou fazer tapioca pra vender, foi assim que comecei a trabalhar vendendo tapioca.

Zk – Depois dessa meia lata a senhora passou a comprar goma de quem?
Raimunda Almeida - Comprava bastante goma dos Japoneses que traziam da Colônia pra mim. Comprava também de um senhor chamado de Neguinho. Saia vendendo tapioca nas feiras livres e fui ganhando freguesia.

Zk – A senhora falou que comprava goma dos japoneses e eles moravam aonde?
Raimunda Almeida – Tinha a Colônia Japonesa que ficava ali pras bandas da Viçosa, acho que até hoje tem deles morando lá;

Zk – O que os japoneses traziam pra vender?
Raimunda Almeida – Eles traziam principalmente verdura e legumes, também vendiam muito frango e ovo de galinha,

Zk – Quando a senhora passou a vender tapioca na porta dói Mercado Central ele já era assim como é hoje, falo da construção?
Raimunda Almeida – Não, era diferente, com essa já a quarta reforma que fazem nele depois que estou vendendo tapioca aqui na porta.

Zk – Além de tapioca a senhora vende o famoso Pé de Moleque. Como se prepara o Pé de Moleque?
Raimunda Almeida – O Pé de Moleque dá um pouco de trabalho. A massa dele é tirada da mandioca braba que a gente coloca por algum tempo na água pra ficar Puba (azeda), essa massa é temperada com cravinho, erva doce e castanha que antigamente a gente chamava de castanha-do-pará. A massa, que se assemelha a de um bolo, é assada no forno de farinha, enrolado na folha da bananeira, adquirindo um sabor único.

Zk – Uma recita de bolo de macaxeira?
Raimunda Almeida
– O Bolo de Macaxeira é muito diferente do Pé-de-moleque. A massa do bolo de macaxeira tem que ser colocada numa forma e levada ao forno que pode até ser um forno de farinha. Ingredientes - 1 Kg de macaxeira (aipim) ralada 4 ovos inteiros - vidro pequeno de leite de coco - 1 pacote pequeno de coco ralado - 1 lata de leite condensado - 1/2 litro de leite ou água (a gosto) - 1 colher de café (rasa) de sal - 1 colher de sopa de manteiga - 1 colher de café de baunilha. Modo de preparar - Colocar a macaxeira ralada em uma vasilha e juntar os ingredientes: ovos, manteiga, sal, baunilha, coco ralado e o leite de coco, e mexer bem. Acrescentar o leite condensado e 1/2 litro de água, e mexer bem. Acrescentar açúcar a gosto, se desejar adoçar mais. A massa deve ficar um pouco mole. Levar ao forno em forma untada com manteiga para assar, até que o palito de teste saia limpo. Após assar, retirar imediatamente do forno para não ressecar. Desenformar frio.

Zk – quando a senhora chegou aqui na década de sessenta, como era a cidade?
Raimunda Almeida – A cidade ainda era bem pequena a cidade começa da Pinheiro Machado pro centro. Da Pinheiro Machado pra lá só tinham umas casinhas muito feias, não tinha rua era só aquele caminhos. Era muita poeira no verão e muita lama no inverno, já alcancei o inicio do bairro da Liberdade, dói bairro Liberdade pra lá era mata mesmo, a Nova Porto Velho também era mata bruta. Da Rua Brasília Pra lá era só uma casinha aqui, outra acolá todas feitas de barro. Tinha mesma a Baixa da União o Triângulo, o Caiari e o Centro da Cidade.

Zk – Tão chamando dona moça ali do lado. Quem é dona moça?
Raimunda Almeida – É o meu apelido, Todo mundo me conhece como dona moça. Desde criança meu pai me botou esse apelido. É muito difícil me chamarem de dona Raimunda é só dona Moça.

Zk – Lá em cima a senhora disse que trabalhou com a dona Marize Castiel. Como era a dona Marize como patroa?
Raimunda Almeida
– Dona Marize era muito rígida, braba mesmo. Brigava com o pessoal, mas, graças a Deus comigo não. Certa vez eu disse umas verdades pra ela e eu que pensava que seria repreendida, fui foi elogiada, ela disse que eu era uma pessoa muito correta e eu disse pra ela: O tanto que eu lhe respeito, quero ser respeitada também, daí pra frente ela foi uma boa amiga pra mim.

Zk – A venda de tapioca na porta do mercado sempre foi liberada?
Raimunda Almeida – Não, quando o Chiquilito era prefeito a gente passava baixo, ele mandava o rapa tirar a gente, eles expulsavam mesmo, era aquele corre-corre. Vou até falar uma besteira, mas, o Chiquilito era uma peste.

Zk – E o prefeito Roberto Sobrinho?
Raimunda Almeida – Ele ta bom, não persegue ninguém, até acho que ele está muito bonzinho ao deixar os ambulantes invadirem as praças. Ele reforma as praças e os ambulantes invadem, acho que ele deveria ser mais rígido na fiscalização das praças. Mas ele bom prefeito, pelo menos deixa a gente trabalhar em paz.

Zk – A senhora sempre vendeu suas tapiocas na porta do mercado. Nunca se interessou em conseguir um boxe dentro do mercado?
Raimunda Almeida – É melhor aqui na porta, nunca me interessei em colocar ou vender minhas tapiocas num boxe, aqui na porta o contato com o povo é mais direto. Nossos fregueses já sabem onde estamos e vem direto comprar.

Zk – É verdade que a senhora envia pé de moleque e tapioca pro Japão?
Raimunda Almeida – É verdade, passou pro aqui uns japoneses e gostaram do nosso pé de moleque e da nossa tapioca e agora sempre estão mandando buscar lá do Japão, quer dizer, nossa tapioca já é famosa até fora do Brasil.

Zk – Quem é o seu marido e quantos filhos a senhora tem?
Raimunda Almeida – Sou casada há 33 anos com o Manoel Rubens e sou mãe de cinco filhos.

Zk – A senhora fornece tapioca para festas. Tem um telefone para contato.
Raimunda Almeida
– Sempre estou fornecendo meus produtos em festas, principalmente nos cafés da manhã. Quem quiser encomendar nossos produtos devem nos procurar aqui na porta do Mercado Central de domingo a domingo. A gente não tem feriado. É só perguntar onde está à bacia de tapioca da dona Moça que todo mundo aqui do mercado sabe informar.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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