Porto Velho (RO) sábado, 18 de maio de 2024
opsfasdfas
×
Gente de Opinião

Silvio Santos

Capitão Esron Penha de Menezes


 

História Antiga - CEM
Capitão Esron Penha de Menezes

Sábado passado dia 10, fui até a residência do capitão Esron de Menezes com o intuito de tirar uma dúvida, sobre a história ou a origem do termo “Cutuba”, que os rondonistas e os renatistas (Pele Curta), atribuíam aos seguidores de Aluizio Ferreira. Na realidade, minha dúvida surgiu em virtude de ter lido no mais novo livro da professora Yedda Bozarcov “Rondônia: Espaço, tempo e gente” que o significado da palavra Cutuba segundo T. Sampaio, na Revista do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, p. 144, Manaus 1938, significa: “Ótimo, Excelente, Supimpa. Muito forte e valente”, outras fontes constam no livro de Yedda. 

Acontece, que quando ainda éramos adolescente, ouvíamos os políticos da facção “Pele Curta”, dizer que o termo Cutuba quer dizer, “Cu doce” e, nossa pesquisa na Internet, encontrou o seguinte: "Cutuba" significa: bom, gostoso, apetitoso, portanto, poderia ser que os “pele curta” queriam dizer que os aluizistas tinham algo gostoso para dar com a palavra “Cutuba”. Capitão Esron Penha de Menezes  - Gente de Opinião

Com todas essas dúvidas na cabeça fomos saber com quem realmente viveu a história política da nossa região do território do Guaporé até os dias de hoje o historiador Esron Penha de Menezes. Acontece, que ao em vez de ficarmos sabendo o porque os aluizistas foram taxados de Cutuba, fomos agraciado com uma verdadeira aula de histórias e causos que se passarem na Porto Velho de todos os tempos. O que era uma conversa para durar no máximo dez minutos, se transformou em 120 minutos de gravação. Por isso e para não deixar os leitores sem saber o que conversamos, resolvemos publicar a conversa com o Capitão Esron em série. Hoje publicamos a primeira de uma série das Histórias Antigas do CEM. 

E N T R E V I S T A

Zk - O que os rondonistas e renatistas queriam dizer ao taxar os aluizistas de CUTUBA?
Capitão Esron
– O termo tinha uma formação que era meio indelicada, “Cu meio cheiroso”, Cutuba, seriam aqueles que eram adeptos da facção do Coronel Aluízio Ferreira E Pele Curta os que eram da facção de Rondon e Renato.

Zk – Existia uma versão de que o termo Cutuba foi criado de uma comparação do nome Araçá Tuba que quer dizer Araçá Doce daí Cutuba – Cu Doce. O senhor tem conhecimento disso?
Capitão Esron – E não praticamente a mesma coisa que eu disse, Os Pele Curtas na realidade, queriam de qualquer maneira, desfazer pejorativamente dos Aluizistas. Era muito engraçada a disputa.

Zk – Já que começamos a falar em política no tempo de Cutuba e Pele Curta. É verdade que naquele tempo os adeptos da facção que não fazia o governo sofria horrores. O senhor por uma situação dessas, Como foi essa perseguição?
Capitão Esron – O inicio da coisa e porca gente sabe aqui foi que esses partidos se dividiram por causa do Ademar de Barros. O Ademar de Barros veio aqui em Porto Velho e marcaram a assinatura de um acordo ali naquele Palacete Rio Madeira (Prédio que fica na D. Pedro II esquina com a Euclides da Cunha). Conta isso porque sei da história e vi. Eu era encarregado no governo do Araújo Lima daquele edifício quer dizer, só ia pra lá quem eu mandava. Então marcaram uma reunião praquele dia pra fazer esse acordo político que eram unir os aluizistas com os rondonistas tanto que o Cel Aluízio Ferreira estava presente.

Zk – E o que aconteceu que desagradou maioria dos presentes?
Capitão Esron – Estava também presente um deputado chegado ao Ademar de Barros ele mandou que esse camarada ficasse de costas para que ele (Ademar) assinasse um telegrama apoiado em suas costas. Aquilo indignou o pessoal e por isso as facções continuaram divididas. O Ademar era do PSP em vista disso e porque eu era o administrador do prédio sugeri que a reunião fosse suspensa, já que o ambiente estava tumultuado e naquele tempo poderiam ter depedrado o Palácio. Daí começou a perseguição a minha pessoa que se concretizou no governo do Darwiche quando me mandaram prum lado e minha mulher Vitória para outro.

Zk – Quais os políticos realmente respeitados naquela época no Território do Guaporé?
Capitão Esron - Rafael Vaz e Silva; Ary Pinheiro; Waldemar Oliveira que era dentista; Chaquiam; Clidenor Moreira Jorge e muitos outros. Aí cada um puxou prum lado e então surgiu a idéia da candidatura do Rondon.

Zk – Por que chamavam o Joaquim Vicente Rondon de cérebro de concreto?
Capitão Esron – Era porque ele custava a entender as coisas. Ele de fato era meio bronco mesmo.

Zk – Como era o seu relacionamento com o Rondon?
Capitão Esron – Olha, eu gostava muito do velho Joaquim Vicente Rondon porque ele me fez um favor muito grande.

Zk – Vamos relatar esse favor?
Capitão Esron – Vitória estava doente e foi internada no hospital São José e eu tinha um bar no clube Internacional e a noite chega o Ary Pinheiro no bar e diz: “Esron vai pra casa porque a Vitória está muito mal, ele não chega de manhã, ela foi desenganada por cinco médicos. Fui pra casa sem graça. Quando amanheceu o dia fui até o hospital ver se ela já tinha morrido mesmo e lá a encontrei muito bem, sentada, conversando e sai de lá mais tranqüilo. Quando eu chego ali onde hoje é o Correio o Rondon (Joaquim) vinha subindo num carro. Ele parou e disse, “Esron vem cá. É verdade que a dona Vitória está mal?” Fui lá hoje coronel e ela esta conversando bem e ele disse, é, mas deve ter alguma coisa que é preciso ter cuidado. Por que você não manda ela pro Rio de Janeiro? E eu disse que não tinha recursos para isso e ele, não tem condições? Tem sim! Ela vai, vamos lá com o Bichara (empresário responsável pela Cia Aérea Cruzeiro do Sul em Porto Velho), tinha um avião que vinha da Caracas e passava por aqui. O Vicente Rondon mandou o Bichara colocar uma cama no avião pra Vitória viajar. Quando saímos de lá ele disse, falta alguma coisa? Coronel eu não tenho dinheiro pra manter a Vitória no Rio de Janeiro. Isso é fácil, vamos lá no Palácio (ele era o governador), assina um vale aí de 28 mil contos! Fiquei assombrado. Coronel eu não vou poder pagar isso, Ele, deixa comigo! Ele fez uma carta de próprio punho recomendando a Vitória ao médico dele.

Zk – Quando o senhor pagou esse empréstimo?
Capitão Esron
– De vez em quando eu passava lá no palácio e falava com o seu Guimarães que era o tesoureiro, Como é seu Guimarães, aquele vale? E ele, o governador já sabe, deixa pra lá!

Zk – Então o senhor foi dono do bar do clube Internacional. Qual a história do Internacional?
Capitão Esron
– O clube Internacional foi tudo aqui em Porto Velho. Foi clube de dança; foi maçonaria; foi igreja da religião católica; foi tribunal do júri; foi teatro e foi colégio, eu estudei lá no internato gratuito Tobias Barreto. Bom deixa eu concluir a história do empréstimo do Rondon.

Zk – Vamos lá?
Capitão Esron - Esron! Quero que você faça um coquetel porque vai chegar um general boliviano aqui. Fiquei assim, e disse Coronel tá difícil, eu tenho aquele barzinho, mas, não da e ele disse, faz o seguinte: eu vou te dar 28 Mil Contos, e tu faz o coquetel. Eu fiz o coquetel ele mandou que eu pagasse o empréstimo, com o dinheiro que ele tinha me dado.

Zk – O Internacional sempre funcionou como clube social?
Capitão Esron – Ele foi construído para ser o restaurante dos empregados da Madeira Mamoré que ganhasse acima de 15 Mil Contos, só depois foi que se transformou em Clube.

Zk – Quando passou a funcionar como Clube Social só era freqüentado pelo categas?
Capitão Esron
– Havia pessoas, operários que freqüentavam o Internacional e havia pessoas de alto coturno que não freqüentava.

Zk – O que fazia com que uma pessoa fosse impedia de freqüentar o clube?
Capitão Esron – Por exemplo, o sujeito casado quer tinha outra mulher ou amante era impedido que freqüentar o Internacional. Quem tinha filha “falada” também não podia freqüentar.

Zk – A direção do clube era nomeada pela direção da Madeira Mamoré?
Capitão Esron – Não, era eleita. O primeiro presidente do Clube Internacional foi o primeiro gerente da Madeira Mamoré.

Zk – Quando o Internacional passou a ser clube social já promovia carnaval?
Capitão Esron – Quando a Madeira Mamoré passou a ser brasileira eu não estava aqui em Porto Velho, estava trabalhando na Companhia Ford em Santarém - PA. Fiquei cinco anos trabalhando lá. Essa que vou te contar agora não é pra passar pra diante, porque ainda tem gente daqui viva.

Zk – Se eu achar que realmente vai comprometer alguém não publico, se não, vamos passar aos leitores, tá certo?
Capitão Esron
– O PSP e a UDN eram aliados e montaram o QG de propaganda no escritório do Thomas Chaquiam que ficava numa sala do edifício Feitosa onde colocaram um serviço de alto falante e passaram a esculhambar o Aluizio Ferreira. Então a turma do Aluizio convidou uns rapazes e estes subiram no telhado do Mercado Publico Municipal e de lá usando Fuzil (de bala pequena), e quando a turma do PSP/UDN começou a esculhambar o Aluizio a fuzilaria começou prac, prac, prac, acertando o alto falante. Depois eles montaram um outro amplificador e apareceram uns idiotas e roubaram o equipamento. Eu soube disso depois, não participei não!

Zk – Ficou por isso mesmo?
Capitão Esron
– Que nada! No outro dia veio a policia querendo saber que tinha roubado o equipamento, inclusive abriram inquérito policial na tentativa de descobrir o autor do roubo. Até eu fui chamado para depor. O interessante era que cada uma que saia da sala de depoimento, dava um jeito de roubar o depoimento do outro

Zk – Por falar em depoimento, tem uma figura que é pouca lembrada mas que foi parte dessa historia de Cutuba e pele curta. Que é o Coronel Cezario vamos falar dessa figura?
Capitão Esron
– Depois eu te falo. Deixa eu completar esse negócio do roubo do amplificador. Procuraram daqui dacolá e coisa, eu sabia onde estava. Um dia o Ordelo chegou e disse, vamos fazer uma sujeira com o Clidenor. Ali onde é o Banco do Brasil na D. Pedro II com a José de Alencar tinha um terreno que era da dona Maria Turca e o Clidenor Moreira Jorge morava numa casa que existia ali e tinha um bar não sei por onde, tinha uma porção de caixa de cerveja e botaram o amplificar la debaixo das caixas. Passado uns três dias começaram a noticiar que tinha achado o amplificador e a policia foi lá e enquadrou o Clidenor que por sinal era do próprio PSP e não tinha porque sabotar o material do partido. Era assim que funcionava a política no tempo de Cutuba e Pele Curta em Porto Velho.

Zk – E o Coronel Cezario?
Capitão Esron – O coronel Cezario era um vira folha, ele só ficava do lado que o boi se deita. Ele era governo, quem estivesse no governo ele estava do lado. No tempo do Aluizio Ferreira ele foi delegado auxiliar e o Emidio Feitosa quem tinha sido delegado antes dizia: O Cezario é meu auxiliar porque delegado com D maiúsculo sou eu. Quando terminou o governo do Coronel Aluizio e veio o Joaquim Vicente Rondon ele passou-se logo para o Rondon e então foi nomeado delegado Chefe de Polícia que hoje corresponde ao de secretário de segurança. Ele andava só a cavalo. Ele era meio durão, nisso ele era direito. Eu cansei de ver na Guarda Territorial mandarem meter o chicote em gente safada, moleque. Ele teve uma parada comigo...

Zk – Que parada?
Capitão Esron – Quando o Rondon foi nomeado governador ele trouxe pra cá. Aliás, o primeiro comandante da Guarda Territorial foi o Milton Queiroz, depois veio o capitão Moacir Gaia que era genro do Cezario. O gaia foi embora porque não se muito bem com o sogro e ele não quis se inimizar de uma vez e mesmo já andavam falando da Nilce (Mulher do Cezario) com o Chiquinho Milionário que era sobrinho do Bernardo Semião, diziam até que a filha da Nilce a Joá era do Chiquinho bom, do Cezario é que não era. Então, ele trouxe um capitão da polícia de Mato Grosso, esse capitão Fernandes chegou aqui doente e o Rondon mandou ele pra Cachoeira Esperança na Bolívia para se tratar, quando voltou trouxe a conta pro governo pagar e o governo não pagou por falta de condições. Assim sendo Rondon mandou uma ordem pra Guarda Territorial pagar as despesas, vale salientar que naquele tempo a Guarda tinha receita de tocata, tirador de lenha e de vários serviços que a gente fazia, de embarque e desembarque de navio. Eu era fiscal administrativo e sub comandante da Guarda. Quando a conta chegou eu disse que não podia assumir, já que o dinheiro era dos guardas, avisei o capitão Fernandes que não podia pagar a despesa com aquele dinheiro, então o Rondon mandou me demitir e convocou o Alípio que era o comandante do pelotão de Guajará Mirim. Foi então que os guardas da Guarda se revoltaram e decidiram me apoiar. Os guardas prenderam logo o capitão Fernando doente mesmo. Foi então que o Rondon (foi por isso que chamavam ele de cérebro de cimento), pediu ao comandante da 3ª Cia de Fronteira que atacasse a Guarda e prendesse todo mundo.

Zk – Esse ataque se concretizou?
Capitão Esron – Os sargentos da 3ª Cia argumentaram com o comandante: O senhor tá maluco. Aquilo ali, da Farquar pra la é tudo mato e o pessoal deles está entrincheirado. Tinha mais, o Araújo Lima que era diretor da Madeira Mamoré e o pessoal do aeroclube e Panair do Brasil também estavam me apoiando e então o exército não foi. Resultado o Rondon mandou o Cezario lá na Guarda parlamentar e quando chegou na Guarda foi dizendo: “Vim de orem do senhor governador, lhe convidar para assumir o comanda da Guarda Territorial”. Eu respondi que não iria assumir, ele argumentou, o que que eu faço então – Faço o que o senhor quiser. Aí depois de tentar convencer algumas pessoas sem sucesso conseguiu nomear o Sebastião Araújo Lima irmão do Araújo Lima que foi governador, Sebastião estava de porre aceitou, depois se arrependeu.

Zk – Capitão Esron essa conversa tá muito boa mais vamos Ter que dar uma parada por falta de espaço. Na semana que vem a gente prossegue com essa “História Antiga”. Antes queremos saber onde o senhor nasceu?
Capitão Esron – Eu nasci num seringal que tem aqui perto de Porto Velho que era do meu pai o Seringal Cujubim ali perto da praia do Tamanduá por isso sou registrado como de Humaitá porque naquele tempo aqui era tudo estado do Amazonas. Porto Velho pertencia ao município de Humaitá. Sou do dia 27 de dezembro de 1915.

Zk – Eu entrevistei o professor Abnael Machado de Lima e ele declarou, que seu pai, juntamente com o pai dele, cansaram de tomar café na choupana do Velho Pimentel. É verdade. Mas, o senhor só vai responder essa pergunta na próxima semana!

Fonte: Sílvio Santos

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSábado, 18 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Lenha na Fogueira com o filme "O Pecado de Paula" e os Editais da Lei Aldir Blanc

Lenha na Fogueira com o filme "O Pecado de Paula" e os Editais da Lei Aldir Blanc

A Fundação Cultural do Estado de Rondônia (Funcer), realiza neste sábado (16), o ensaio para a gravação do filme em linguagem teatral "O Pecado de Pau

Lenha na Fogueira com o Museu Casa Rondon e a eleição da nova diretoria da FESEC

Lenha na Fogueira com o Museu Casa Rondon e a eleição da nova diretoria da FESEC

Entrega da obra do Museu Casa Rondon, em Vilhena.  A finalidade do Museu é proporcionar e desenvolver o interesse dos moradores pela rica história

Lenha na Fogueira com o Dia de Nossa Senhora Aparecida e o Dia das Crianças

Lenha na Fogueira com o Dia de Nossa Senhora Aparecida e o Dia das Crianças

Hoje os católicos celebram o Dia de Nossa Senhora Aparecida a padroeira do Brasil. Em Porto Velho as celebrações vão acontecer no Santuário de Apareci

Jorgiley – Porquinho o comunicador que faz a diferença no rádio de Porto Velho

Jorgiley – Porquinho o comunicador que faz a diferença no rádio de Porto Velho

Tenho uma maneira própria de medir a audiência de um programa de rádio. É o seguinte: quando o programa ecoa na rua por onde você está passando, dando

Gente de Opinião Sábado, 18 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)