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Renato Gomez

Crônicas da Nova Terra: O Discurso Colonial


Você não tem por que temer começar; estamos todos aí para lhe mostrar que o discurso está na ordem das leis; que há muito tempo se cuida de sua aparição; que lhe foi preparado um lugar que o honra mas o desarma; e que, se lhe ocorre ter algum poder, é de nós, só de nós, que ele lhe advém.

A Ordem do DiscursoMichel  Foucault

            Um dos meus companheiros de revolução me informou sobre uma palestra que seria proferida para os Novos Humanos por seu líder. Achei muito estranho, uma vez que a maioria das palestras eram voltadas para os humanos como forma de manter algumas ordens da sociedade colonial que a dominação dos relógios não conseguiam controlar.

            Fui até o local no horário marcado. Era um galpão construído próximo ao local de chegada dos Novos Humanos à Nova Terra (local onde antigamente estava situado ...). Me escondi por traz de algumas rochas ao lado do galpão. Dali poderia ouvir tudo sem ser flagrado.

            Transcrevo aqui uma parte do discurso repulsivo que ouvi naquele local:

            Caros irmãos, esses seres inferiores que habitam este planeta não são dignos de continuar nos enfrentando. Somos seres superiores que entenderam o verdadeiro sentido da vida com base na verdade religiosa que cultuamos. Estamos aqui na Nova Terra para torná-la o local de nossa morada e em breve ela será rebatizada de Habitat II. Agora que estamos à frente na guerra graças à vantagem adquirida com as nossas vestimentas nos nossos subalternos, temos que tomar cuidado para que isso não se torne um tiro no pé, ou seja, não podemos nos confundir. Desta forma, é de vital importância que deixem suas nucas sempre à mostra para que possamos identificar quem somos. Pois somente nós, os seres superiores escolhidos pelos deuses do universo, possuímos o sinal de nascença da estrela na nuca. Devemos manter o foco de nosso projeto que é salvar este planeta e as pobres almas daqueles que souberem reconhecer nossa grandeza dentre à classe inferior.

            Sai de lá nauseado. Eles realmente nos veem como seres inferiores, mesmo tendo uma estrutura físico biológica idêntica a deles. Passei várias noites em claro após esse episódio. Pensava nos índios e nos negros discriminados entre os próprios seres humanos no passado. Escravizados, inferiorizados, desumanizados, enfim, colonizados de todas as formas possíveis. Pensava em como pudemos guerrear entre nós, pelo simples fato de cultuarmos religiões diferentes e/ou por termos diferença na cor da pele. Enfim, pensava em cada ato colonizador que transgredia ao fato de que somos todos humanos.

            Pelo menos agora sabemos como eles se diferenciam de nós, pois depois do episódio das vestimentas idênticas as deles usadas pelos humanos colonizados, isso vinha sendo um problema para os revolucionários durante os conflitos.

            Após tudo que ouvi, minha sede de liberdade se sacia com cada humano que consigo descolonizar, porém, como se fosse uma gota d'água na boca de alguém que está há meses no deserto. Meu jarro do líquido puro virá quando expulsarmos os Novos Humanos e sua aspiração de superioridade da Nova Terra, apagando as marcas desse racismo que revive uma parte de nossa história da qual só devemos lembrar para não cometer novamente...

           

            Continua...

Renato Gomez

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