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Renato Gomez

Crônicas da Nova Terra: O despertar do sentimento


 

Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.

Iracema- José de Alencar

Após descobrirmos como os Novos Humanos conseguiam se diferenciar de nós nos conflitos. Retomamos a nossa vantagem e conseguimos um “algo mais”, motivados pelo Discurso Colonial proferido pelos nossos oponentes. Cada humano trazido para a liberdade, era um guerreiro a menos no exército deles e uma pessoa a mais no nosso grupo. Com isso, multiplicamos consideravelmente o número de revolucionários.

A maioria dos resgatados eram homens, pois os Novos Humanos tinham uma visão das mulheres baseada na antiga alcunha de sexo frágil e não as colocavam no fronte de batalha. Conseguíamos resgatá-las apenas quando invadíamos alguma cidadezinha em operações de resgate. Uma vez em nosso grupo, as que escolhem lutar são bem vindas. Porém, devido à redução dos colonizados em função do nosso sucesso nas batalhas recentes, ontem os Novos Humanos resolveram colocar as mulheres humanas para lutar e algo surpreendente aconteceu.

Em meio a um conflito difícil, comecei um duelo de espadas contra uma humana colonizada que me atacava com raiva. Por mais que eu tentasse não agredi-la, ela vinha ferozmente ao ataque. Eu me defendia, mas não atacava. Mas, acabei golpeado no braço e revidei instintivamente. Acertei o relógio controlador que se partiu em pedaços.

Ela estava livre, mas continuava a me atacar enfurecida. Eu me admirava com aquilo. Embora os humanos colonizados fossem manipulados, não conseguiam demonstrar sentimentos como a raiva traduzida nos golpes de minha oponente. Foi quando no calor da batalha pulei sobre ela e usei meu peso para contê-la. Aproveitando o momento de vantagem, indaguei sobre o porquê de ela continuar a luta se não estava mais sendo controlada. Ela respondeu em poucas palavras: “Minha família ainda está presa!”. Aproveitando minha distração pela surpresa com a informação recebida, em um golpe ágil, ela conseguiu inverter nossas posições, levantou-se e fugiu. Eu estava desorientado para continuar na batalha. Imediatamente, chamei meus companheiros e recuamos de volta ao acampamento que agora está situado no antigo Forte Príncipe da Beira (pela primeira vez o lugar está sendo utilizado para o fim a que se destina).

Mais tarde, já no acampamento, pensando no ocorrido, pude perceber o quanto tinha achado bela aquela mulher. Me lembrei da descrição da índia Iracema no romance de mesmo nome escrito por José de Alencar, o qual tive a oportunidade de ler em meio aos livros que conseguimos salvar da destruição. A minha (se é que posso tomar essa propriedade) guerreira também tem os cabelos mais negros do que a asa da graúna, lábios de mel e era veloz. Ainda não vislumbrei o sorriso dela, mas tenho certeza que, quanto à doçura, em nada deve ao favo da jati.

A humana mexeu comigo. Não consigo pensar em outra coisa desde ontem. Agora, além de querer a liberdade dos humanos, a restauração da Nova Terra e a expulsão dos colonizadores alienígenas, eu quero conviver com essa mulher...

Continua...

Renato Gomez

                                 

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