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Montezuma Cruz

'Roda Viva' entrevista Rajendra Pachauri


 

Pesquisador vê exagero
sobre aquecimento e alerta
para período de glaciações


DONIZETE OLIVEIRA
Agência Amazônia

MARINGÁ (PR) – Para o doutor em geologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e das Universidade Guarulhos, José Cândido Stevaux, 54 anos, a ação humana não é a principal vilã do aquecimento global. Ele debateu com estudantes da UEM o tema 'Aquecimento Global – Uma Mentira Conveniente', trocadilho referente ao documentário 'Uma Verdade Inconveniente', do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, ganhador do Oscar e do Prêmio Nobel da Paz.

"O que Al Gore mostrou no seu filme é o que chamamos em ciência de 'tirar ruído' deixando aos olhos do público só o que lhe interessa", afirma. "A coisa não é bem assim, há outros fatores que devem ser considerados".

'Roda Viva' entrevista Rajendra Pachauri  - Gente de Opinião
"Estamos num período glacial que alterna frio e calor intensos", diz Stevaux /DIVULGAÇÃO

Com pós-doutorado na Rússia e na Argentina, onde trabalhou em pesquisas sobre climatologia, Stevaux diz que sua intenção não é polemizar, mas alertar a respeito de outros fatores – as glaciações, por exemplo. Segundo ele, o Planeta passa por períodos gelados que duram cerca de 20 milhões de anos, com intervalos de 90 a 100 mil anos de frio intenso e 10 a 12 mil anos oscilando entre frio e calor. "É o que estamos vivendo agora, um período quente, chamado inter-glacial", explica Stevaux.

Para o professor, há exagero da mídia em torno do aquecimento global, jogando culpa só na ação humana. "Os danos causados pelo homem são mais preocupantes em relação à contaminação do solo, por exemplo, mas não são determinantes para elevação da temperatura no Planeta", sustenta.



'Roda Viva' entrevista Rajendra Pachauri  - Gente de Opinião
A Cordilheira dos Andes é fruto de uma placa instável, lembra o pesquisador

Por que sua palestra tem esse tema?

JOSÉ CÂNDIDO STEVAUX – Na verdade, eu queria chamar a atenção. Não quero provocar ninguém, mas mostrar que a ação humana não determina o aquecimento global. Essas mudanças do clima são causadas pela evolução do Planeta. Estamos num período glacial, que se alterna entre frio e calor intensos. Uma glaciação dura cerca de 20 milhões de anos que se intercalam entre 90 e 100 mil anos frios e 10 e 12 mil anos de frio e calor. No último bilhão de anos há registros de pelo menos cinco glaciações. Aqui mesmo no Paraná podemos constatar restos glaciais em Ponta Grossa e Irati, por exemplo, que se formaram há 280 milhões de anos. As pessoas deveriam ser esclarecidas de que as mudanças climáticas são iminentes. Vão acontecer de qualquer jeito. Temos de nos preparar para saber como vamos nos comportar em relação a elas.


Com o senhor analisa o documentário de Al Gore?

Ele mexeu num ponto que chama a atenção. Lançou uma visão pessimista. Embora eu tenha brincado com o título da palestra, não quero polemizar. Ele mostra um lado, faltou aprofundamento científico. Aquecimento global é um tema dominante, mas as pessoas não sabem que estamos numa glaciação. Essa informação não chega ao cidadão comum.


Se estamos num período quente, quando voltaremos para o frio?

Os cientistas russos acreditam que estamos no fim desse período que dura entre 10 e 12 mil anos, chamado inter-glacial, onde há intensas mudanças climáticas. Na década de 70, cientistas sul-americanos fizeram a mesma previsão. A tendência agora é de resfriamento. Há 200 anos, tivemos uma pequena idade do gelo. A Terra, em relação ao que é hoje estava com três graus a menos. De 1850 para cá encerramos esse período frio. O início do aquecimento coincidiu com a Revolução Industrial, com a queima de combustível fóssil, o que contribuiu, mas não foi responsável pelo aquecimento, pois já havia tendência natural de calor.


É possível determinar o dano da ação humana nas mudanças climáticas?

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"A Amazônia se formou numa condição de solo precária" /IBGE

É difícil avaliar. Já vi várias simulações. Só sabemos que a influência dessa ação não determina o aquecimento global. Há casos específicos, como as áreas urbanas, que chamamos de ilhas de calor, onde há situações que contribuem para isso. A pavimentação asfáltica e a redução de área verde, por exemplo. Em compensação a falta de vegetação, produz muito frio. Quem planta café no lugar da mata sabe disso. A geada faz estrago, porque antes as árvores serviam de pára-choques e proteção térmica. Mas essas mudanças climáticas têm impactos apenas locais.

Qual a influência da Amazônia no clima do Planeta?

É menor do que se imagina. Quem controla o clima do Planeta são as massas de água dos oceanos e as calotas polares. A Amazônia se formou numa condição de solo precária. Algumas teorias dizem e concordo que até a presença do homem primitivo com a geração de terras pretas de arqueologia, facilitou a formação da Amazônia. Seu equilíbrio é instável. Se você desmatar uma área muito grande, o excesso de chuva e o clima tropical úmido podem tirar muitos nutrientes do solo. Foi o que ocorreu em nossa região. Aqui tinha uma Mata Atlântica diferenciada, uma floresta imensa. A plantação de café tirou a matéria orgânica do solo e surgiu o arenito. No solo da nossa região, sem adubo, dá só capim. Nosso clima úmido ajuda a levar os nutrientes da terra. Portanto, se você desmatar uma grande área na Amazônia, o impacto não é absolvido.

Qual a importância do efeito estufa?

Dependemos muito dele. Se não tivéssemos os gases do efeito estufa, à noite morreríamos congelados. Ele segura a radiação. O que acontece é a retenção de calor por meio de gases daqui da terra. Pode também ocorrer o efeito contrário. Durante a erupção do vulcão Krakatoa, na Indonésia, tivemos dois anos de inverno em função da pouca radiação solar. Um efeito estufa ao contrário.

Esses recentes tremores de terra preocupam?

Sempre ocorreram, nem mais nem menos. No lado ocidental da América do Sul há uma placa continental instável. A Cordilheira dos Andes é fruto dessa instabilidade. Do lado oriental é tranqüilo. Não temos terremotos no Brasil. O que há aqui é um reflexo de terremotos que ocorrem no Oceano Atlântico, cujas placas estão se afastando em função da sua expansão. Essa acomodação de placas gera tensão que é transmitida ao longo da terra. Quando a terra treme aqui, o epicentro está fora. Sentimos apenas o reflexo do tremor. Estamos na rabeira do caminhão, e a batida atingiu apenas a cabina. Com a expansão do Oceano Atlântico, a América do Sul é empurrada a Oeste e vai ao encontro do Pacífico, provocando essa liberação de energia. Mesmo das tsunamis estamos livres. As falhas que provocam terremotos no Atlântico são transcorrentes, enquanto no Pacífico essas falhas são de compressão, provocam mudanças mais intensas no substrato gerando ondas que podem se propagar.

Não há como evitar a pergunta quando se fala desses assuntos: o mundo tem fim?

Não tem como você sumir com uma matéria. Ela se transforma, vira energia, mas não acaba. As teorias de formação do Universo nunca eliminam a energia. As transformações são infinitas e aí você entra no campo teológico. O antes do antes. Mas fim do mundo não existe.

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Prêmio Nobel da Paz na TV Cultura / DIVULGAÇÃO


"Roda Viva" entrevista Rajendra Pachauri

SÃO PAULO – O programa Roda Viva, da TV Cultura, leva ao ar nesta segunda-feira (28/7), às 22h40, a entrevista (inédita e gravada) com o presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), Rajendra Pachauri, Em nome do IPCC, Pachauri foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz 2007, juntamente com o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore.

Considerado um dos mais influentes personagens do debate internacional sobre o meio ambiente, ele vem chamando a atenção do mundo para a questão ambiental e para a estreita relação entre recursos naturais e paz.

A bancada de entrevistadores é formada por Cláudia Tavares (repórter do programa Repórter Eco, da TV Cultura); Claudio Angelo (editor de Ciência do jornal Folha de S. Paulo); Herton Escobar (repórter de Ciência e Meio-Ambiente do jornal O Estado de S. Paulo); e Alexandre Mansur (editor de Ciência e Tecnologia da revista Época). O programa é mediado pela jornalista Lillian Witte Fibe. (Agência Amazônia)

Fonte: Agênciaamazônia é parceira do Gentdeopinião

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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