Terça-feira, 25 de setembro de 2018 - 14h33
MONTEZUMA CRUZ
Com fotos de Ytalo Andrade [originais no site Expressão Rondônia]
Dois anos depois da maior infestação ocorrida nas circunvizinhanças da Usina Hidrelétrica Jirau e em Porto Velho, o comportamento do mosquito Mansonia será agora estudado por especialistas de oito fundações, institutos de pesquisa, e universidades. Encontrado do Suriname à Argentina, esse mosquito ainda não causa doenças, mas perfura fortemente a pele das pessoas.
Ao anunciar esta semana pesquisa regulada pela Agência Nacional de Energia Elétrica, a empresa Energia Sustentável do Brasil (ESBR) pretende auxiliar a saúde pública.
Segundo o pesquisador e biólogo da Oikos Consultoria e Projetos, Fábio Costa, o envolvimento das comunidades afetadas é fundamental para o êxito do projeto. “Pesquisadores visitarão residências para instalar armadilhas, fazerem coletas e análises necessárias”, disse.
O Mansonia prolifera atualmente em áreas vizinhas à Mineração São Lourenço, Projetos Joana D’Arc e Santa Rita, Morrinhos e Belmonte. É o maior causador de coceira nas pessoas, ganhando longe do carapanã e do pium.
O gerente de engenharia e planejamento da ESBR, Luís Fea, acredita na possibilidade de elaborar “o protocolo adequado” para reduzir a infestação do mosquito.
Em abril de 2015, a empresa Sapo estudou os hábitos do Mansonia, no momento em que ela já invadia casas por frestas, janelas e telhados em Jaci-Paraná e Nova Mutum-Paraná, a cerca de cem quilômetros de Porto Velho.
Biólogos constataram o aumento dos mosquitos adultos, por causa da profusão de plantas macrófitas em igarapés da região às margens do Rio Madeira. Aguapé, por exemplo, concentrava 85,7% das larvas em 2015.
Além do aguapé, onde eles coletaram 85,7% das larvas, apareciam outras
vegetações: Pontederia sp (10,9%) e Paspalum repens (3,4%), ambas comuns
no Pantanal Mato-Grossense e na Amazônia.
Em dois bancos de
macrófitas encontrados nas margens do Madeira, o Igarapé Ceará
apresentou 2,9% das larvas do Mansonia e o Igarapé Flórida 97,1%.
Larvas
coletadas com o auxílio de pipetas plásticas foram inseridas em tubos
com rosca contendo álcool a 70%. A identificação foi feita no
laboratório de entomologia médica do Instituto de Pesquisas Científicas e
Tecnológicas do Estado do Amapá.
“Ele é mais agressivo que
outros já conhecidos na Amazônia, porque ataca os seres humanos quando
entram em áreas de floresta”, alertou em 2017 o biólogo Flávio Aparecido
Terassini, da Faculdade São Lucas em Porto Velho e mestre pela
Universidade de São Paulo (USP).
Terassini pesquisou o Mansonia
no período 2001-2003. Até 2011 Até 2001 Terassini coletou mosquitos,
barbeiros e carrapatos nos rios Mamoré e Guaporé e, antes da construção
das usinas Jirau e Santo Antônio já identificava grande quantidade de
mosquitos nas barrancas dos rios. “Um dia coletamos seis mil em uma hora
[cerca de 100 por minuto]”, lembra.
Em março de 2017, Jaqueline
Coradini levou os repórteres até a casa do pai dela, o paranaense Ademar
Artur Coradini, que se intoxicou com veneno. Seu quintal estava repleto
de latas vazias de inseticida. Ele também usava raquete mata-mosquito,
vendidas quase três vezes mais caro que as latas de inseticida. A
raquete custava R$ 35.
A Faculdade São Lucas estudou pela
primeira vez os mosquitos em parceria com Instituto de Ciências
Biomédicas 5 USP em Monte Negro, município do Vale do Jamari, a 248
quilômetros de Porto Velho.
Em fevereiro do ano passado, na
região de Nova Mutum-Paraná e Jacy-Paraná, a pedido de um escritório de
advocacia de Porto Velho, a bióloga, mestre especialista em meio
ambiente Káthia Inaja Pinheiro dos Santos coletou mosquitos Mansonia de
três gêneros e quatro espécies.
Ao todo, 810 mosquitos [Diptera:
Culicidae], usando-se a metodologia mais adequada para coleta de
espécies hematófagas. Por atração humana protegida em Jacy-Paraná: 497
mosquitos; em Nova Mutum-Paraná: 313.
Em Nova Mutum-Paraná,
Khátia dos Santos coletou apenas dois gêneros. Espécimes do gênero
Mansonia foram outra vez os mais frequentes e numerosos nas amostras,
representando 311 mosquitos (99,4%).
“Os valores do índice de
picadas por homem hora variaram entre 17.0 e 64.00, o que quer dizer que
no horário de menor quantidade estima-se 17 mosquitos picando uma
pessoa e uma hora depois, segundo horário de 64.0 mosquitos picando uma
pessoa/h”, revela o estudo da bióloga.
Nº DE MOSQUITOS GÊNERO ESPÉCIMES % IPHH
P1 = 1º hora de coleta Mansonia 17 8.7 17,0
P2 = 2º hora de coleta Mansonia 64 23.8 64,0
P3 = 3º hora de coleta Mansonia 42 16.7 42,0
P4 = 4º hora de coleta Mansonia 37 15.1 37,0
P5 = 5º hora de coleta Mansonia 45 17.7 45,0
P6 = 6º hora de coleta Mansonia 46 18.0 46,0
Número
de indivíduos do gênero Mansonia coletados por hora, no distrito de
Nova Mutum Paraná, no dia 13 de fevereiro de 2017, e sua frequência.
IPPH = índice de picada homem/hora.
“Dentre
os Culicídeos coletados em Jaci Paraná, o gênero Mansonia sp.
contribuiu com 96,8% dos indivíduos, distribuídos em seis horários,
sempre em maior porcentagem, provavelmente picando as pessoas”.
“O
índice de picadas por homem/hora foi maior no quinto horário. O IPHH
geral destas localidades foi de 70.0 m/h/h no primeiro horário e de 87.0
m/h/h no quinto horário. Ou seja, existe um ambiente com maior
probabilidade de perturbação para as pessoas”, ela constatava.
QUEM PARTICIPA
“Pesquisa
Mansonia e você”, anunciada esta semana pela ESBR, conta com os
seguintes parceiros: Fundação Amazônica de Defesa da Biosfera, Instituto
Nacional e Pesquisas da Amazônia, Universidade Federal de Rondônia,
Universidade Federal do Acre, Fundação Oswaldo Cruz, Instituto de
Pesquisas Tropicais de Rondônia, Instituto Evandro Chagas e Oikos
Consultoria e Projetos.
Galeria de Imagens
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