Missionários se auto-exilam para escapar de grileiros na Amazônia Mato-Grossense

JOÃO NEGRÃO
AGÊNCIA AMAZÔNIA

CUIABÁ, MT – Desde a absolvição dos acusados de matadores e mandantes do assassinato do missionário jesuíta Vicente Cañas, que atuava na Amazônia Mato-Grossense, aumenta o drama de seis integrantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), entidade ligada a Igreja Católica para defesa e proteção dos índios, de forte atuação no estado. Sebastião Carlos Moreira, Tião, irmã Lourdes, padres Balduíno, Salomão e Felício, e mestre Mário encabeçam uma lista de pessoas juradas de morte por grileiros e fazendeiros. Tião do Cimi, como se tornou conhecido há 20 anos, foi um dos que tiveram que se "auto-exilar" para escapar das freqüentes ameaças intensificadas a partir da absolvição dos acusados. Entre outras regiões, ele trabalhava em Juína, a 735 quilômetros de Cuiabá.

A sensação de impunidade e o clima de tensão antes, durante e depois do julgamento fortaleceu a sanha dos criminosos. Não que os assassinos e os que encomendaram a morte de Cañas possam estar por trás, mas há fortes indícios de que outros grupos, com interesses dentro e no entorno de áreas indígenas ainda estejam tramando contra os missionários.

Atividades reduzidas

O padre diocesano Isidoro Salomão, por exemplo, que trabalha com os índios Chiquitanos, mais especificamente os que ocupam uma área entre Cáceres e o Destacamento Fortuna, do Exército Brasileiro, na fronteira com a Bolívia, teve que deixar a área para não morrer. Ele informou que seu trabalho agora se limita a atender os indígenas em projetos desenvolvidos na cidade. "Se voltar para a área, as ameaças recomeçam. Se voltar para a cidade, cessam", disse ele.

Para não correr risco de morrer, padre Salomão, assim como os demais ou estão foram das áreas de conflito ou reduziram suas atividades. Alguns foram para outros estados, aproveitando inclusive oportunidades de ampliar seus estudos sobre questões indígenas.

A situação mais grave, no entanto, é a de Tião do Cimi. Logo após o julgamento do caso Cañas, em 9 de novembro de 2006, ele teve que ser retirado de Cuiabá e proibido de viajar para a região de Juína, onde desenvolvia parte de seu trabalho. Na época, foi deslocado para outro estado, ficando praticamente incomunicável. Sua esposa, que é professora, e filhos ficaram em Cuiabá até concluírem os compromissos escolares. Em 2007 passaram a morar com ele. Dirigentes do Cimi informam que Tião e a família agora se encontram em Santa Catarina , mas não revelam a cidade. Eles mantêm comunicação freqüente com ele, mas apenas via e-mail, já que os telefones correm o risco de estarem grampeados.

Conversa dura e ameaças

Em que pesem as denúncias sobre os conflitos, agressões contra índios e ameaças a padres e missionários, a situação na maioria das áreas indígenas em Mato Grosso continua grave. Poucas providências foram tomadas para reduzir os conflitos. Ao contrário, as agressões de grileiros, madeireiros, garimpeiros e fazendeiros continuam. E a arrogância e ousadia desses agressores e seus prepostos é tamanha que sequer se escondem em seus atos.

Detalhe: as ameaças não param. Mesmo quando elas vêem a tona. Quando a revista Sina publicou o caso dos indigenistas, há um ano, fui procurado por um dos acusados de ser o mandante de uma das agressões a missionários. Ele estava acompanhado de uma pessoa conhecida. Por motivos óbvios, não vou revelar os nomes. Mas a conversa foi dura. Como sempre o argumento era de que "índios são preguiçosos", que "existe muita terra para poucos índios", que "eles é que são os agressores, não-civilizados e ignorantes".

Ao rebater tais argumentos, recebi o dedo em riste do acusado, exigindo que fosse outra matéria com a versão dele. Disse que não teria problema, que era um direito dele dar a sua versão, mas que não aceitaria tratar os índios com desrespeito, pois todos os não-índios é que invadimos a casa deles, com a ressalva de que nós negros fomos trazidos à força para cá. Dei a ele meu telefone e o fiquei aguardando para a entrevista, mas até hoje não deu mais notícias. 

Sina circula há um ano

BRASÍLIA – Sina, revista alternativa de Cuiabá, completou seu primeiro aniversário com a edição nº 13, de fevereiro. "Não foi nada fácil. Estamos com déficit orçamentário, mas a persistência é maior", explica Mário Hashimoto, diretor-editor. Na edição de aniversário Sina entrevista o cearense José Maia de Andrade, um dos mais antigos jornalistas de Cuiabá. Ele foi diretor-editor e proprietário do Correio da Imprensa, celebrizado como um dos mais combativos diários do estado, cujo final melancólico terminou com a invasão de sua sede e o empastelamento.

Adeildo Lucena lembra o jornalismo de vanguarda praticado há 30 anos em Mato Grosso. Ivaldo Lúcio conta alguns causos notáveis também ocorridos no passado. Montezuma Cruz fala dos jornais mato-grossenses em quase 170 anos de história da imprensa que nasceu com a publicação da Themis Mato-Grossense, em 1839.

Carlos Gomes de Carvalho escreve "Os tormentos de uma virgem insone". Sérgio Cintra: "Era noite é nós cantávamos...". Marcos Dantas: "Os anos de chumbo e a imprensa alternativa". Gilbran Lachowski: "Jogos de espelhos". E Michèle Sato: "Um instante de liberdade".

Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamzônia é parceira do Gentedeopinião