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Montezuma Cruz

Baratas quando vêem melado...


    
 
MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia
 
Secretários são uma espécie rara de pessoas que muito bem poderiam promover-se dentro de condutas ilibadas, o suficiente para se projetarem sem manchar nomes e terem uma vida normal, colhendo os louros da glória que a política proporciona. Mas não. Servem para eles a carapaça de espertalhões e oportunistas. Cabe-lhes o velho dito popular, segundo o qual, a barata nunca vê melado e quando isso acontece, ela se lambuza toda. É o que ocorre de uns tempos para cá na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, com honrosas exceções.

Não se mede mais o político brasileiro pelo que aparenta ser, mas pelos gestos de coragem, caráter e até de renúncia. Esta última palavra parece mesmo riscada do dicionário de alguns.

Quando estourou o escândalo das ambulâncias, a máfia dos sanguessugas, o deputado Nilton Capixaba (PTB-RO) enquadrou-se como um dos principais protagonistas dos negócios levados a cabo pelo colega Lino Rossi (PP-MT). Propinas daqui, propinas dali, o quarto secretário da Câmara pôs novamente Rondônia no rol dos escândalos nacionais. Rossi, que negava tudo e até dizia que o nome dele constava na Serasa, maculou Mato Grosso e os mato-grossenses.

Que tantos poderes têm os secretários e diretores do Poder Legislativo Brasileiro? Pois têm, e muito. Nos corredores e gabinetes, há quem diga que, além de prestarem uma série de favores aos parlamentares, concedendo-lhes benesses dentro e fora do figurino regimental, até lhe emprestam dinheiro e se desmancham em salamaleques para lhes agradar. Traduzindo: agem como baba-ovos de primeira, para conquistar os parlamentares e se manter no cargo.

Nos anos 1980, o médico e senador Claudionor Roriz (PDS-RO) confidenciou a este repórter que estava enojado do Senado, onde funcionários da direção ofertaram-lhe empréstimo quando passava por dificuldades financeiras. Do que se deduz: essa gente sabe tudo a respeito do parlamentar, inclusive sobre sua vida familiar e a quantas anda seu prestígio na base. 
 
Na Câmara e no Senado, secretários não apenas assessoram as presidências. Agem como reis, autorizando gastos, reformas e limpezas em gabinetes, passagens aéreas, viagens ao exterior etc. Os menos avisados, rogam-lhes obrigações que deveriam ser prestadas indistintamente, seja para o "baixo, médio ou alto clero". 

Secretários são, assim, seres muito procurados, requisitados para favores, festas e outros atos e compromissos. Deputados de primeiro mandato contam que dependem desses cidadãos, caso queiram levar adiante o seu projeto de carreira política. Enfim, secretários mandam e desmandam.

Avalie-se o mais recente caso de abuso de poder, cometido por esse senador da Paraíba. O sr. Efraim Morais (DEM-PB) se julgou no direito de passar por cima de licitações públicas para premiar quatro publicações do seu Estado com publicidade superfaturada. Fez com isso, driblando a direção de Comunicação Social e a diretoria geral do Senado. Ou teria sido com a conivência delas?

Pelas mãos do sr. Efraim, cinco sites na internet recebem R$ 48 mil e R$ 120 mil anuais para divulgar simples banners que indicam a página do Senado. O caso de uma agência de notícias dita nordestina traduz o espetáculo de outra forma: republica o noticiário do Senado sem lhe tirar ou acrescentar uma vírgula. Há muitos anos, isso se caracteriza no jornalismo de "lei do menor esforço", ou  preguicite crônica.

Nos sites, todos falam bem do sr. Morais. Num deles, o banner do Senado aparece numa coluna social!

A atitude do representante paraibano pôs em situação delicada a gestão até então marcada pela lisura, do presidente Garibaldi Alves (PMDB-RN). Alves acabara de desestimular a contratação, sem concurso público, de 97 assessores especiais que implicariam o pagamento mensal de R$ 9,9 mil a cada um. Tudo isso, num momento em que o monstrinho inflacionário expõe as patas outra vez, corando de preocupação o assalariado brasileiro.
 
Diante da reação à proposta, ninguém quis ser pai da idéia de contratar esses assessores. No dia seguinte à aprovação, Garibaldi reconheceu que isso iria "pegar mal" para a Casa. Outros integrantes da Mesa reagiram, mas o argumento, para o espanto geral, tinha o apoio de todos os líderes partidários! Romero Jucá chegou a dizer: "Se a Câmara tem, temos o direito de ter também". 

De absurdo em absurdo, 2008 vem passando. Aproximam-se as eleições municipais. Haverá tempo para os corregedores se mobilizarem e fazer a transparência vir a público, mostrando o que é e o que não é objeto de licitação? Perguntem ao 0800 do Senado Federal.

O senador Morais não é criança para supor que poderia enganar o povo brasileiro, prestando favores a aliados políticos com dinheiro que não sai do seu salário, muito menos da verba indenizatória. Recentemente, ele propôs um requerimento de louvor pelos 64 anos de vida do Instituto dos Cegos da Paraíba. Teria lhe passado pela cabeça que a maioria dos que o cercam ou acompanham a sua atuação seriam, de certo modo, cegos?

 No entanto, acuado, o secretário do Senado atribuiu a maracutaia a um "erro de digitação". Quer dizer, nessa suposta confusão entre os valores mensal e anual pagos pela Casa aos portais, pode ser que a culpa recaia sobre a digitadora. Antigamente, as culpadas eram as datilógrafas.

Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião.
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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