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Montezuma Cruz

AMAZÔNIA MATO-GROSSENSE: Índios reagem a hidrelétrica e põem fogo no alojamento


 


EPAMINONDAS HENK
Agência Amazônia

CUIABÁ, MT – Alojamento, escritório e caminhões incendiados – eis o resultado da mais recente resistência dos índios enauenê-nauê à construção da pequena central hidrelétrica do Juruena, uma das obras previstas e autorizadas pelo governo estadual para a região noroeste de Mato Grosso. Esta manifestação, um susto de fim de ano ao Governo de Mato Grosso, foi a mais significativa até agora registrada numa região em conflito pelo uso do rio em território indígena e pelos sucessivos furtos de madeira de lei. 

Mais de 300 empregados da usina foram expulsos da área, sob a mira de arco e flecha. Os índios exigem um estudo completo de impacto ambiental, que revele os reais prejuízos que sofrerão, em conseqüência dos projetos hidrelétricos. A pesca está entre as principais preocupações da tribo. O clima é tenso. O Ministério Público Federal ingressou com duas ações na Justiça para embargar as obras.

Segundo a polícia civil em Juína, 737 quilômetros de Cuiabá, capital mato-grossense, extintores de incêndio usados pelos empregados da construtora foram insuficientes para conter o fogo. Os índios incendiaram 12 caminhões, cada um avaliado em R$ 120 mil. Eles também destruíram uma ambulância e caminhonetes que estavam na garagem.

Empresários responsáveis pelo Consórcio Maggi Energia e Linear Participações concordaram em repassar R$ 6 milhões como compensação financeira às tribos, mas o Ministério Público Federal foi contra por causa do clima de tensão.



Tutela da Funai 

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Bacia do rio Juruena, noroeste de MT: sete projetos autorizados e peixes ameaçados / TELMA MONTEIRO DANIEL
Ainda, de acordo com a polícia, a rede de energia também foi danificada. Após a destruição, o diretor do consórcio, Mauro Boschiero, constatou a paralisação completa de duas delas. "Os índios são tutelados pela Funai e a Funai tinha a obrigação de manter essa tutela. É como um pai de família que é obrigado a cuidar de seu filho", queixou-se Boschiero.

Em outubro, durante outro ataque indígena ao canteiro, Boschiero disse saber que a Polícia Federal "tem interesse em identificar as organizações não-governamentais infiltradas nas comunidades indígenas e que podem estar promovendo essas manifestações". Nada comentou, porém, sobre a posse da terra pelos índios, que o próprio governo contesta.

Em todo o Estado de Mato Grosso há 140 usinas projetadas. Outras também enfrentam resistência dos índios. Segundo a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, as obras estão sendo construídas "fora de áreas indígenas". No entanto, os índios exigem um estudo mais detalhado sobre os impactos ambientais na região e cobram também indenizações financeiras. 

Sobrevivência de peixes é o nó górdio

● O Alto Rio Juruena tem como seus principais tributários os rios Iquê, compreende os municípios de Juruena, Castanheira, Juara, Juína, Brasnorte, Sapezal, Comodoro, Campos de Júlio, Conquista do Oeste, Pontes e Lacerda, Aripuanã, Campo Novo dos Parecis, Nova Lacerda, Vale de São Domingos e Tangará da Serra.

● Os enauenê-nauê temem que a pesca diminua e ameaçam caso a obra na usina invadida seja retomada. Em outubro, quatro deles denunciaram a Polícia agressões sofrida no interior da PCH Telegráfica, na divisa de Juína com o município de Sapezal, no rio Juruena. Eles estavam acompanhados do chefe administrativo da Funai no momento em que apresentaram o caso para a Polícia Militar.

● Segundo o índio Lolauenacua, de 19 anos, ele e mais três, duas crianças entre eles, pescavam e tiravam minhocas, quando foram abordados pelo segurança de uma empresa terceirizada que presta serviços à PCH. O homem os ameaçou e os agrediu. "Ele me bateu, chutou índio, colocou o revólver na minha cabeça e mandou eu sair de lá" – relatou. Lolauenacua disse ter ficado com medo e deixou o local.

● A Funai decidiu pedir novos estudos sobre o impacto ambiental no local. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente informa que não há necessidade de novas pesquisas sobre o impacto ambiental. "Os índios não serão prejudicados", alega.

● Em seis de novembro, 84 índios das tribos enauenê-nauê e kamaiurá reuniram-se em Brasília, para definir propostas contra a construção de PCHs. O presidente da Funai, Márcio Meira, e representantes do governo do estado de Mato Grosso, da Agência Nacional de Energia Elétrica e da Empresa de Pesquisa Energética participaram do encontro.

● Desde 2004, os índios protestam contra as obras PCHs próximas ao Rio Juruena e aos afluentes do Rio Xingu. Segundo o representante da comunidade do Parque Indígena do Xingu , Pablo Kamaiurá, com essas construções a reprodução de peixes desses rios estará comprometida e com isso a base da alimentação indígena da região será afetada. (E.H.)

Fonte: Montezuma Cruz - A Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopiniao.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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