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Liliane Melo

Autismo: Do luto à luta! - Por Liliane Melo


 

Enfim... você recebe o diagnóstico de autismo de seu filho ou filha... e agora? O que fazer? No meu caso específico, eu tinha todas as desconfianças possíveis mas não havia um diagnóstico, acredito eu, que isso aflige ainda mais os pais.  O médico disse que só poderia diagnosticar com cinco anos de idade – nessa época ele tinha quase três anos. O laudo, sem estar completamente fechado veio aos seis anos de idade e dizia que ele tinha algumas características autísticas - e agora, aos sete anos foi feita uma nova avaliação por uma neurologista em Curitiba-PR que o diagnosticou com autismo.

Minha intenção neste artigo especificamente é ajudar àquelas pessoas que desconfiam ou mesmo as que já têm um diagnóstico fechado. Não sejamos hipócritas! Ninguém sonha ou se prepara psicologicamente para ter um filho que não seja “dito” normal. Algumas vezes ouvi de alguns pais que não trocariam seu filho autista por um filho normal. Eu ouvia isso e pensava: “são loucos”. Só que hoje entendo! E como entendo! Amo meu filho do jeito que é independentemente das dificuldades que apresenta... e pasmem... parece que esse amor aumenta ainda mais nesses quadros!Gente de Opinião

Você a esta altura deve estar se perguntando sobre o título deste artigo: Do luto à luta. Aonde ela quer chegar? Será que errou já que ainda não falou sobre isso? Pois bem, o título é este mesmo! Por que? Vou esclarecer: aquela criança que você idealizou morreu, não existe mais e é preciso renascer para uma outra criança que você não imaginava, em uma outra perspectiva e ir à luta sim. Primeiro ficamos estáticos com o choque, é normal, porque o luto é parte integrante no processo da descoberta. Depois do luto vamos à luta sim ainda pensando meio norteados: como será?

No caso do meu filho, o autismo é leve, mas fico pensando como seria se não tivesse arregaçado as mangas e enfrentado a situação. Que luta é essa? Você possivelmente vai ter que encarar uma série de situações, como olhares impiedosos de recriminação (muitos irão supor que o mau comportamento de seu filho ou filha é fruto de falta de pulso dos pais, por ser mimado (a), não ter limites e assim por diante, já que fisicamente é normal como qualquer outra criança) e você vai aprender a lidar como isso; além de que seu tempo será consumido por idas e vindas a sessões de terapias; dentre outros.

As inúmeras terapias passam a se tornar parte de sua rotina diária... tem momentos que cansamos, somos humanos! Mas cada avanço faz com que o esforço despendido seja de certa forma uma premiação... e garanto: não há dinheiro que pague a alegria de vislumbrar cada avanço! Passamos a dar valor a coisas que até então passavam despercebidas por nós.

Muitas coisas aprendemos no dia a dia... nas tentativas... sendo que cada criança autista é de um jeito... o que funciona para um, pode não funcionar para outro - mas procurar pesquisar sobre esta síndrome também ajuda bastante, apesar de haver na internet muita bobagem sobre o assunto e gente querendo se dar bem às custas da dor do outro.

Procure também pesquisar a respeito dos terapeutas que irão atender seu (a) filho (a)... e outra: não existe forma milagrosa de cura, aliás ainda não existe cura, o que pode haver é melhora no quadro e o processo é lento... então respira, tenha muita calma, paciência e vá em frente! Vai valer cada minuto investido no seu filho, seja ele afetivo, financeiro ou do seu tempo mesmo!

Alguns comportamentos na criança como obsessão por rotina, por objetos estranhos, tirar a roupa em público,  enfileirar brinquedos e isolamento social são amenizados com a intervenção terapêutica... pelo menos no caso do meu filho o resultado tem sido fantástico! Alguns falam pouco, outros não falam nada, e outros nunca vão falar... mas com certeza, com essas intervenções vão aprender a se comunicar! Falo com experiência de causa!

Quando eu ia a um clube, as outras crianças queriam brincar com meu filho mas ele simplesmente as ignorava como se elas não estivessem lá, o que me deixava até sem graça.. isso sem contar seu procedimento “inadequado” em shopping, restaurante, igreja... mas hoje ele interage muito bem até com pessoas que não fazem parte de seu convívio!

As idas ao shopping com ele bem pequeno eram uma caixinha de surpresa. Nunca sabia o que ia acontecer... já saí de lá até mordida por ele... às vezes ficava muito nervoso diante de tanta gente e barulho (eram muitos os estímulos sensoriais para ele processar) então mesmo que inconscientemente, eu usava uma técnica de pega-lo no colo na qual passava para ele segurança, então com suavidade deslizava minhas mãos pelas costinhas dele ao mesmo tempo em que falava em seu ouvido, baixinho, palavras de acalanto e ele se acalmava. Recentemente, através do workshop que participei sobre o método DIR Floortime, descobri que esse gesto traz conforto a eles e consequentemente, relaxam.

O autismo é simplesmente uma forma diferente de ser, sentir e ver o mundo. Esta síndrome é representada por quebra-cabeças coloridos porque cada autista é único. Todo autista tem potencialidades, mas podemos ensiná-los de diversas maneiras e eles conseguirão aprender. Nossa luta como pais é muito simples: que eles sejam aceitos socialmente e alcancem sua independência. E digo mais: cada conquista tem um sabor especial!

Uma palavra a mais em seus repertórios; algo que não faziam sozinhos e passam a fazer; até mesmo querer experimentar algo que não experimentariam; quando se dispõem a fazer algo que não faziam... aplaudimos sim, e pais, descobri que nossa euforia diante dessas pequenas conquistas traz um retorno muito positivo por parte deles... às vezes eles ficam nervosos sim, mas por falta de sabedoria de nossa parte. Um exemplo claro: como eles têm obsessão por rotina, se for fazer algo diferente do que eles estão acostumados, converse antes, conte o que vai acontecer – pode ter certeza que a reação será mais positiva!

Para finalizar, amem,  amem muito seus filhos... façam demonstrações de afeto... até hoje, pelo menos em relação ao meu filho a reação dele ao beijo ainda é meio complicada: ele gosta de dar, mas não gosta muito de receber... mesmo assim não ligo! Beijo, aperto e o que tenho recebido de retorno é espetacular. Claro que devemos respeitar os limites, avaliando até que ponto podemos ir.

A criança precisa sentir que seu amor é realmente incondicional... passei anos para ouvir: “mamãe eu amo você”... claro que ouvi isso à maneira dele e não teria como, por mais que quisesse, por em palavras a emoção com que fui dominada neste dia...! Outra coisa: o autista não está alheio ao que você diz – cuidado – mesmo parecendo alheios, eles percebem e sentem tudo à sua volta... fica a dica!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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