Porto Velho (RO) sexta-feira, 19 de abril de 2024
opsfasdfas
×
Gente de Opinião

Jéssica Frocel

ENTRE A ORDEM E O ABUSO. Forças Armadas VS Estudiosos


Jéssica Frocel

Estudante secundarista em escola pública, em Porto Velho/RO

            Majoritariamente, dentre os estudiosos do campo das Ciências Sociais e de História, é comum que se observe certo sentimento de hostilidade para com as instituições militares, independentemente de sua importante função: manter a ordem, não por meio da força, mas fazê-lo se e quando necessário, ou melhor, a proteção dos indivíduos e do Estado.

Trata-se do fantasma da Ditadura Militar que circula em seu campo de atuação, muitas vezes sendo vista como algo além de objeto de estudo, por vezes como mecanismo propulsor do ódio e da repulsa.

            Fato: a Ditadura Militar de 64 foi um período de grande opressão e privação de liberdade, como em qualquer outro regime semelhante. No entanto, é importante compreender e separar (bem como no regime democrático), o que é de interesse da maioria (onde todos seguem e agem por vontade própria), e quando nos submetem à minoria: onde o mais forte domina pela força, ou outras formas de poder, como a ameaça.

            É necessário que se “abram aspas”, pois, 64 é um exemplo clássico de dominação da minoria externa e interna, sob um contexto histórico instável e de grande agitação. Deu-se no miolo da Guerra Fria e possuiu articuladores tanto norte-americanos quanto brasileiros. Sobretudo, destaque-se a coerção dentro das próprias forças armadas, do alto comando sobre subalternos (“soldados rasos”). Dito isto, é necessário esclarecer o porquê de muitas ordens ilegais não terem sido contestadas.

            Muitos afirmam que as instituições militares impedem os indivíduos de pensar, imprudente, para dizer o mínimo. Analisando-se melhor, é possível perceber outra problemática: grande parte dos membros das forças armadas detinha, na época, baixa instrução – comum no período em que a educação era privilégio dos mais ricos –, não tinham outra profissionalização além da aprendida no quartel, e possuíam acentuada herança escravista (vide aí a Revolta da Chibata).

Ou seja, estas instituições, por vezes, eram suas melhores opções de trabalho a fim de obter subsídios para si e familiares (visto ainda hoje). No dito popular: “antes que teu filho sofra do que o meu”. Tem-se aí a chantagem, posteriormente a alienação, quando eles eram postos como “homens da lei”, e que precisavam fazer o necessário.

            Isto é claro não faz dos eventos menores ou mais perdoáveis, não são; mas proporcionam ver um novo ponto de vista, onde se evidencia mais um tipo de massa de manobra, tão cega quanto quaisquer outras. Ora, a Revolução Francesa não se fez menos violenta apenas por ter em mente “bons objetivos”, bem como o Terceiro Estado não se fez menos cego e manipulado.

            Voltando à questão central, o repúdio dos estudiosos perante os militares faz-se por meio do sofrimento que ecoa por suas gerações (parece ter se tornado uma tradição), e se eleva, de odiar a ditadura a odiar a ordem.

Que não seja mal entendido, mas o Estado sem suas forças armadas é meramente anárquico, tendo em mente a maldade inerente e desejo por poder posse, na era da velocidade.

Mesmo assim, curiosamente, qualquer cidadão, ao sofrer um assalto, chamaria a polícia. Mesmo que seja civil ainda é hierarquizada, sendo em suma bastante semelhante à militar.

E temos aí uma bela quebra do encantado mundo para a realidade, ou simplesmente a decida de um pedestal, a aceitação de que pertencem a algo maior, uma sociedade pautada em direitos.

Nesse momento muitos exercem uma (triste) cidadania, se veem iguais e dependentes como quaisquer outros; mas, passado o incidente, tornam a subir em seus pedestais e declamar o velho discurso. Nesse meio tempo, no entanto, foram capazes de separar os militares da ditadura.

            Logo, é um raciocino simples: militares, mantém a ordem, ditadores usam militares em prol do poder e do controle. Todos os regimes ditatoriais usaram forças armadas, muitas ditaduras foram civil-militares (outras apenas militares) como o Brasil.

Portanto, não é uma exclusividade, mas com certeza é no Brasil que se tem este grande círculo vicioso, alimentado pelos revanchismos. Ao passo que, muitos daqueles que eram contra o regime, subiram ao poder e negligenciaram as instituições militares e o Estado, tanto quanto foram por eles no passado.

O que não para por ai, pois muitos estudiosos tendem a agregar ainda mais a questão, unindo a ditadura às próprias forças armadas e aos colégios militares num só pacote. O que não é irrelevante, uma vez que talvez eles simplesmente nunca tenham sido alunos de escolas periféricas, abandonadas e sucateadas. Revelando-se ai o porquê de estarem formados e serem aqui tratados por ‘estudiosos’. Se for este o caso, é provável que uma experiência presencial além dos livros didáticos os faça mais senhores do assunto. Tanto quanto estariam aptos a debater sobre o mesmo, ou ainda, “dar uma volta pelo mundo atual e ver o que ele seria sem os ‘famigerados agentes da lei”.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 19 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

A ética e influência intergeracional.

A ética e influência intergeracional.

A ética, como uma orientação moral teve papel importante em todas as grandes mudanças percebidas ao longo da história, tendo sido responsável pelas

Breves contribuições do pensamento Arendtiano para os tempos contemporâneo

Breves contribuições do pensamento Arendtiano para os tempos contemporâneo

Hannah Arendt foi autora de com grande importância para os mais diversos campos da ciência, tendo elaborado diversas obras de renome, podendo ser ob

Parabéns e Outras Felicitações

Parabéns e Outras Felicitações

Parabéns, meus amigos! Sobretudo, parabéns a todas as pessoas com baixa renda.

Breves considerações sobre a pena e sua aplicação

Breves considerações sobre a pena e sua aplicação

1. Etimologia e natureza da pena A palavra pena é repleta de controvérsias, sua origem exata é desconhecida, mas em de um aspecto geral entende-se q

Gente de Opinião Sexta-feira, 19 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)