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Hiram Reis e Silva

A Terceira Margem – Parte LVI - Viagem da “Real Escolta” – XII NONA CACHOEIRA (Araras)


A Terceira Margem – Parte LVI - Viagem da “Real Escolta” – XII  NONA CACHOEIRA (Araras) - Gente de Opinião

Bagé, 01.10.2020

 

Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte XXV

 

Viagem da “Real Escolta” – XII

 

NONA CACHOEIRA (Araras)

 

Com o rumo do Sul, corre uma enseada de parte Oriental principiando em uma ponta de pedras, ficando-lhe oposta outra enseada medeando uma Ilha de figura quase triangular, e de suficiente grandeza.

 

Dois canais resultam da posição desta Ilha ([1]), o mais largo da parte direita, por onde despede o Rio a maior quantidade das suas águas, que entram atropelando imensidade de penedos que se lhe oferecem na Embocadura do mesmo canal, por cuja razão se fazia impenetrável aquele trânsito.

 

O mais estreito se achou ser o canal da parte esquerda, que suposto tivesse bastante correnteza, dava, contudo lugar de poder-se vencer a remo.

 

O que posto em execução, se transportaram as canoas com duas horas de caminho à parte de cima da Cachoeira, sem mais trabalho que romper a remo duas correntezas que, na Embocadura do canal, procediam de pedras ainda mal cobertas de água, as quais atravessavam aquela passagem a fazer união com as do outro canal no rumo de quase Lesteoeste, para a qual formava várias Ilhas de pedras coroadas de arvoredo silvestre, que faziam à vista uma representação agradável.

 

DÉCIMA CACHOEIRA (Periquitos)

 

Passada na forma referida, a Cachoeira Tamanduá ([2]), e saindo dela ao rumo do Sul, se foi costeando à parte esquerda no de Susueste e Sueste, e neste com duas horas de caminho, se encontrou a Cachoeira chamada Mamorini ([3]), a qual se compõe unicamente de pedras, que atravessam o Rio de uma a outra parte no rumo de Noroeste e Sueste.

 

E como a grandeza delas não era da mais avultada, se achavam quase todas cobertas, despedindo algumas correntezas, que se venceram a corda, e a remo à margem esquerda, e depois de ficar pela popa, em pouco mais de uma hora se continuou viagem no rumo de Susueste e ultimamente ao Sul.

 

Portaram as canoas na margem direita com dez horas de caminho, em que se andara 5 léguas.

 

DÉCIMA PRIMEIRA CACHOEIRA
(Chocolatal-Ribeirão-Misericórdia)

 

No dia 18.01.1750, seguindo o rumo do Sul, com duas horas de caminho se entrou com as primeiras pedras ([4]) da mais trabalhosa, enfadonha, e perigosa Cachoeira, que até ali se havia encontrado. Por mais de légua e meia de caminho se dilata esta Cachoeira chamada Mamorini ([5]).

 

Ilhas de pedras cobertas de arvoredo agreste e penedos escalvados atravessam o Rio de uma a outra margem, por entre os quais obstáculos rompe a água, fazendo variedades de fenômenos, porque em partes despenhando-se vai fazendo por entre outras pedras mais pequenas fervedouros continuados, que rebentam furiosos, e com rapidez atraem tudo o que se lhes avizinha, e por outras rompendo com brava correnteza de ondas arrebentadas como de Oceano tempestuoso, tudo o que se lhes opõe atropelam, e sem remédio soçobram.

 

Este terrível espetáculo se continua Rio acima por espaço de uma légua antes de chegar ao grosso da Cachoeira, que consiste em vários precipícios de água que atravessam o Rio, e não dão passagem por nenhum modo, nem toda a indústria do mundo lho saberá introduzir, se não por terra varando por ela as canoas até as lançar da outra parte dos despenhadeiros, que de outra sorte seria acabar infalivelmente a empresa.

 

Isto suposto, se encostaram as canoas à margem esquerda e, no rumo do Sul, se passaram as primeiras correntezas de 3 pontas de pedras, que saíram da terra a buscar as que atravessavam o Rio e, para vencer esta primeira passagem, foi necessário ir com muito vagar fazendo pressa nos remos, com que se foi ajudando a sirga até chegar a um pequeno salto, que havia entre a terra e uma Ilha de pedras, passado o qual com grande trabalho se seguiu logo outro, que com igual fadiga se deixou vencer, e sendo já 18h00, portaram as canoas com 6 horas de caminho, em que se andara um quarto de légua.

 

A 19.01.1750, se continuou viagem costeando a mesma margem esquerda no rumo do Sul e Sudoeste por entre a ribanceira do Rio e Ilhas de pedra, e restingas que saíam da terra firme, da mesma sorte que as do dia antecedente, e com igual trabalho de sirga por entre pedras e arbustos agrestes se navegou todo o dia até se avistar o monstruoso despenhadeiro de água que havia no mais alto da Cachoeira, que não era rocha talhada, mas um declive com mais de 500 braças ([6]) de distância e com 7 horas de caminho se andara uma légua.

 

Dia 20.01.1750, principiou-se viagem costeando no rumo de Susudoeste uma enseada, na qual iam bater as águas que saíam atropeladas dos despenhos da Cachoeira, que retrocedendo para a mesma parte donde corriam furiosas levando por toda a enseada ondas encapeladas que representam um golfo embravecido; e assim com grande perigo se navegou a mesma enseada até se refugiarem as canoas em um Riacho, que do centro deságua, onde a Cachoeira faz a última queda.

 

Duas horas levou a passagem da enseada, que teria um quarto de légua de distância até chegar ao Riacho ([7]), em que se portou pelas 09h00.

 

O resto do mesmo dia 20.01.1750 se gastou em estivar de madeiros o caminho da terra para por ele se vararem as canoas, o que se executou no dia 20 e 21.01.1750, e neste ficaram já transportadas as canoas da outra parte da Cachoeira com as cargas que a cada uma pertenciam. Terá este varadouro 600 braças ([8]) de distância, na qual a elevação, por uma e outra parte, que o faz mais trabalhoso. Corre a Cachoeira a atravessar o Rio a rumo de Nordeste e Sudoeste.

 

No dia 22.01.1750, saindo de Mamorini ([9]) no rumo do Sul, se costeou à esquerda, e passando em breve tempo ao Sudoeste; neste se encontrou com um disforme morro de pedra escalvada, que se avançava até quase à terça parte da largura do Rio. Encanava esta água por entre uma Ilha fronteira ao rochedo, como também por entre este e a terra firme da parte esquerda e pelo meio.

 

Do encontro de todas estas correntezas resultava uma tão grande, saindo da ponta do penedo, dilatando-se à largura do Rio, que não era possível poder-se romper a remo não só pela violência impetuosa das águas e ondas rebentadas que ali se formavam, mas também porque, por toda aquela espantosa rapidez, se levantavam fervedouros de águas, que a faziam subir [ao parecer] mais de 6 palmos ([10]), e logo se resolviam em sumidouros os mais formidáveis, de que até aqui se fez menção.

 

Nestes termos, não houve outro arbítrio mais do que introduzir as canoas pelo pequeno canal mui embaraçado de pedras e arbustos agrestes que mediava entre o penedo e a ribanceira Oriental que se navegava; e com grande trabalho de sirga se conseguiu o projeto, que levou 4 horas de importuna passagem.

 

Continuou-se viagem no mesmo rumo de Susudoeste, e portaram as canoas à vista da duodécima Cachoeira ([11]), e se andara neste dia 3 léguas. (G. FONSECA, 1826) (Continua...)

 

Bibliografia

 

G. FONSECA, J.. Notícias para a História e Geografia das Nações Ultramarinas – Portugal – Lisboa – Academia Real das Ciências – Coleção de Notícias para a História e Geografia das Nações Ultramarinas, que Vivem nos Domínios Portugueses, ou lhe são Vizinhas, Volume 4, n° 1, 1826.

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

·     Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·     Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

·     Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·     Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·     Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·     Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·     Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·     Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·     Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·     Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·     Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·     Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·     Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

·     E-mail: [email protected].



[1]   Ilha: das Araras.

[2]   Cachoeira Tamanduá: Cachoeira Araras.

[3]   Mamorini: Periquitos – 10°05’32,5” S / 65°18’36,7” O.

[4]   Primeiras pedras: Chocolatal ‒ 10°10’12,6” S / 65°18’24,7” O.

[5]   Mamorini: Chocolatal-Ribeirão-Misericórdia ‒ 10°13’34,6” S / 65°17’29,4” O.

[6]   500 braças: 1.100 m.

[7]   Riacho: Igarapé Ribeirão – 10°13’49,7” S / 65°16’59,5” O.

[8]   600 braças: 1.320 m.

[9]   Mamorini: Chocolatal-Ribeirão-Misericórdia.

[10]  6 palmos: 1,32 m.

[11]  Duodécima Cachoeira: Madeira.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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