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Elson Martins

Forró na Floresta


  

ELSON MARTINS
Amazônias
 
Quem já participou de alguma festa em seringal sabe que é preciso ter boa saúde para acompanhá-la do começo ao fim; e ter modos para não descumprir, com algum risco, regras elementares da segurança do ambiente. O principiante, então, pode escorregar numa besteira qualquer. Precisa antes observar, observar muito... Até perceber quando sua presença não incomoda e tem a proteção do dono da festa. Mesmo assim, 

Forró na Floresta - Gente de Opinião

ex-seringueiro Luiz Vasconcelos da Silva, membro da Confraria da Revolução Acreana que mora em Porto Acre.

veja lá com quem vai mexer!

Os tempos mudaram, é certo, e os festeiros da cidade que só de tempos em tempo se aventuram na tradição podem abrir a guarda! Sim, mudaram, mas nem tanto lá onde o vento faz a curva. 

Falo do assunto porque está sendo anunciado para o dia 30 um forró tradicional na antiga colocação do ex-seringueiro Luiz Vasconcelos da Silva, membro da Confraria da Revolução Acreana que mora em Porto Acre. 

Luiz nasceu no seringal São Bento, na colocação de nome Cuidado, no rio Macauã em Sena Madureira. De lá passou para o seringal Caquetá, colocação Rabo da Besta, e desta para o politizado Recanto da República de Galvez na margem direita do rio Acre. 

Experiente festeiro aos 55 anos, Luiz garante que seu barraco coberto de palha, com chão de terra batido acolhe até 800 dançantes com muita organização, alegria e respeito. Foi esse o número do ano passado, na festa que começou na tarde de sábado e se estendeu à manhã de domingo sem nenhum incidente. Ele jura que todo mundo comeu, bebeu e dançou. 

Este ano Luiz tem dúvidas quanto à comida, mas quinta-feira andava por Rio Branco procurando interessados que o ajudassem comprar carne de segunda (barata, gostosa e nutritiva) para fazer 10 panelões de caldo. Com os vizinhos ribeirinhos conseguiria outro tanto de macaxeira cozida. Quanto a cerveja e a pinga, segundo ele,: “dá-se um jeito”! 

O forró deste ano tem inspiração na história de Porto Acre: 30 de janeiro foi a data no ano de 1900 na qual o espanhol Luiz Galvez, após ser destronado pelos coronéis seringalistas que o ajudaram a criar a República Independente do Acre (a 14 de julho de 1899), retorna ao cargo a pedido deles, que não deram conta do recado. Por isso, a colocação terá na parte da tarde, pequenas solenidades. 

A programação começa com apresentação da Fanfarra da Escola de Segundo Grau Plácido de Castro; um aluno repentista dirá versos que fez para Galvez, e outros receberão prêmios por uma redação sobre o tema. Em seguida tem o lançamento do livro “La Estrella Solitaria” do espanhol Alfonso Domingo sobre a vida do herói de Porto Acre. Tem ainda uma rápida palestra e a reza de um terço. 

Daí pra frente, como diria minha professora do curso primário no Grupo 7 de Setembro, Maria de Castro e Costa: “Quem for podre que se quebre”! Porque o forró começa e só terminará na manhã seguinte. 

O autodidata Luiz Vasconcelos, misto de seringueiro, ambientalista, sindicalista, ativista político, historiador e, sobretudo, dono do forró estabeleceu divisões para varar a noite, e sorteio para adoçar ânimos alterados 

A programação começa às 20h30 com a música Catira do Galvez que ele mesmo compôs e assegura ser “um ritmo bom”. Na seqüência vem: 

“Forró das Quatro Bolas”: dança de homem com homem. Nesta modalidade, 10 pares concorrem ao prêmio de quatro latinhas de cerveja; 

“Forró das Quatro Bandas”. Luiz explicou que colocar “beiras” como é o certo, ficaria feio. O par feminino que dançar melhor ganha as mesmas latinhas de cerveja;.

“Forró da Desfeiteira” Aqui dançam os casais que, entretanto, podem ser surpreendidos pela escolha do sanfoneiro que pára a música e pede ao homem que conduz a dama que faça um verso qualquer. Se não o fizer, perde a mulher para outro pretendente 

Luiz reconhece que essa parte é delicada, “pode dar pau”! Mesmo assim, ele confia que vai prevalecer a esportividade e a brincadeira.

Lá pela meia noite, salvos os mortos e feridos da “desfeiteira”, e para deixar o forró correr solto até o amanhecer, dois representantes de Porto Acre e dois de Xapuri vão disputar o quadrangular do torneio Jogo da Onça (ver texto ao lado), uma tradição dos seringais que está sendo revivida pela Confraria da Revolução Acreana. 

]O resto é: suor e cerveja, caldo de carne e macaxeira no quebra-jejum e boa conversa com os locais e os visitantes. Além da certeza de que o passado ensina aos que vivem na região, boas lições para o presente e o futuro, como se vê nos versos do Hino Acreano: 

“Que este sol a brilhar soberano
Sobre as matas que o vêem com amor
Encha o peito de todo acreano
De nobreza, constância e valor”...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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