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Dom Moacyr

Que a justiça resplandeça no mundo!


 
O período 2015-2024 foi proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) como a Década Internacional de Afrodescendentes, visando a cooperação nacional, regional e internacional no desenvolvimento dos direitos econômicos, sociais, culturais, civis e políticos de pessoas afrodescendentes e sua plena e igualitária participação em todos os aspectos da sociedade.

A Igreja, através da Pastoral Afro-americana vem reafirmando, a partir da proclamação da ONU sobre o decênio afrodescendente, a justiça, o conhecimento e o desenvolvimento dos povos afrodescendentes, mediante a promoção de diálogo com a sociedade, maior articulação com a Igreja, combate à discriminação racial enfrentada pela população afrodescendente e a promoção de diálogo com as religiões de matrizes africanas.

A XX Romaria das Comunidades Afro-Brasileira aconteceu no dia 05 de novembro em Aparecida (SP) e teve por tema “O povo de Deus com o olhar da Mãe negra misericordiosa”. Entre os romeiros, pessoas de diversas confissões religiosas, comunidades quilombolas, bispos e agentes de pastoral, integrantes de organismos e movimentos sociais, todos celebraram, partilharam experiências e avanços, discutiram projetos e desafios, fortalecendo suas lutas em defesa do povo afrodescendente.

Hoje, recordamos a memória de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra na luta pela libertação. O racismo continua sendo um estigma no Brasil e ainda precisa ser quebrado. Desde 1978, o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial batizou a data como o “Dia Nacional da Consciência Negra” em substituição ao 13 de Maio, considerado o Dia das Raças.

A Pastoral Afro-brasileira tem se empenhado no enfrentamento dos desafios presentes em nosso país. Quase 130 anos após a abolição da escravatura, milhares de pessoas ainda são submetidas a trabalhos em situação degradante. A escravidão moderna movimenta mais de US$ 32 bilhões, segundo a OIT.

Os interesses contrários aos direitos quilombolas de hoje, são os mesmos daqueles que, no período da escravidão, lutaram incansavelmente para que a mesma não tivesse fim. Contestaram e contestam, principalmente, o direito aos territórios das comunidades que, uma vez titulados, se tornam inalienáveis e coletivos. As terras das comunidades quilombolas são herdadas e cumprem sua função social precípua, dado que sua organização se baseia no uso dos recursos territoriais para a manutenção social, cultural e física do grupo, fora da dimensão comercial. São territórios que contrariam interesses imobiliários, de instituições financeiras, grandes empresas, latifundiários.

A Igreja acompanha, através da Comissão Pastoral da Terra, os conflitos fundiários que envolvem as Comunidades Quilombolas de Rondônia e sua luta pela titulação de seus territórios tradicionais, reconhecidos pela Constituição brasileira: Comunidade Quilombola S. Antônio do Guaporé (Munic.S.Francisco do Guaporé), Com. Forte Príncipe da Beira (C.Marques), Com. Santa Fé (C. Marques), Pedras Negras (S.Francisco do Guaporé), Laranjeiras (Pimenteiras d’Oeste), Associação Quilombola de Santa Cruz e Pimenteiras (Pimenteiras d’Oeste), Comunidades de Rolim de Moura do Guaporé e Tarumá (Alta Floresta d’Oeste) e Comunidade quilombola de Seu Jesus (Munic. São Miguel do Guaporé), única que tem sua área reconhecida e titulada.

Em uma sociedade frequentemente dominada pela cultura do descarte, somos chamados a superar a indiferença e aprender a arte da solidariedade; a agir contra a exclusão social dos mais frágeis e trabalhar para a integração destes. Esse é o apelo do papa Francisco aos agentes da Caritas, reunidos em Roma e é o apelo a cada cristão, a fim de que resplandeça “a caridade e a justiça no mundo à luz do Evangelho e do ensinamento da Igreja, envolvendo os pobres para que sejam os verdadeiros protagonistas de seu desenvolvimento”.

Nestes tempos de paralisia, desorientação e propostas destruidoras, a participação como protagonistas dos povos que procuram o bem comum pode vencer, com a ajuda de Deus, os falsos profetas que exploram o medo e o desespero, que vendem fórmulas mágicas de ódio e crueldade, ou de um bem-estar egoísta e uma segurança ilusória. Dessa forma, somos “chamados a revitalizar, a refundar as democracias que estão atravessando uma verdadeira crise”.

E às organizações dos excluídos e tantas outras da sociedade, o papa pede aos seus membros que não caiam “na tentação da divisão que os reduz a agentes secundários ou, pior, a meros administradores da miséria existente” (3º Enc. Mundial dos Movimentos Populares).

Os participantes do II Encontro da Igreja na Amazônia, em sua Carta Final, “lamentam o distanciamento entre a Igreja e os movimentos populares” (Belém, 14-16/11) e reafirmam seu compromisso de ser “uma Igreja samaritana, companheira de caminhada, que evangeliza com a compaixão e a misericórdia; que apoia o esforço dos povos indígenas e dos que vivem dos frutos do campo, da floresta e dos rios, pela proteção das terras e das águas que dão sustento às suas comunidades e às suas culturas”.

“No entardecer da vida seremos julgados sobre o amor” (S.João da Cruz).

No momento em que procuradores e juízes defendem privilégios, são questionados e perdem credibilidade, somos conduzidos para a imagem do Juízo Final. Eis que “o Juiz está às portas” (Tg 5,9). É a “qualidade” do Juiz a razão da nossa esperança, afirma o teólogo M. Masciarelli, professor da Pontifícia Faculdade Marianum, em Roma, na qual concluí meu curso de teologia, na década de 50. Razão pela qual esperamos com confiança o Seu retorno e o ato de autenticação da nossa existência e da nossa vocação que Ele vai realizar.

Acima de tudo, temos esperança porque esse Juiz é o Filho essencial, infinitamente amado pelo Pai, e é o nosso Irmão mais velho, que por nós Se fez homem, sofreu e ofereceu a Sua vida em sacrifício. Ao mesmo tempo, a infinita filiação de Cristo é também, imediatamente, o título daquilo que Ele é para os homens, o salvador único, perfeito e universal.

Na conclusão e coroamento do ano litúrgico, celebramos a solenidade de Cristo Rei do universo, data que marca o encerramento do Ano Jubilar da Misericórdia e, no Brasil, o Dia Nacional dos Leigos Cristãos. Foi um ano centrado na Misericórdia de Deus como disse o Papa: “Deus abre o coração e a esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do pecado” (MV).

A vivência da Misericórdia impulsiona a Igreja para fora de si mesma, para as margens, onde acontece o sofrimento humano (IHU). Uma Igreja configurada pelo “Princípio Misericórdia” tem força e coragem para denunciar os geradores de sofrimento e morte, para desmascarar a mentira daqueles que oprimem, para animar e despertar a esperança daqueles que são as vítimas.

O fio condutor das leituras bíblicas de hoje é a centralidade de Cristo.

Jesus é apresentado como rei nosso e do universo. Ele é o Messias/Rei enviado por Deus, que veio tornar realidade o velho sonho do Povo de Deus e apresentar aos homens o “Reino”; no entanto, o “Reino” que Jesus propôs não é um Reino construído sobre a força, a violência, a imposição, mas sobre o amor, o perdão, o dom da vida. Para Lucas, o Reino de Jesus é essencialmente o Reino da reconciliação do ser humano com Deus (Lc 23,35-43).

Cristo é o centro da história da humanidade e também o centro da história de cada homem. A Ele podemos referir as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias de que está tecida a nossa vida. Quando Jesus está no centro, até os momentos mais sombrios da nossa existência se iluminam: Ele dá-nos esperança, como fez com o bom ladrão no Evangelho de hoje.

Hoje todos nós podemos pensar na nossa história, no nosso caminho. Cada um de nós tem a sua história; cada um de nós tem também os seus erros, os seus pecados, os seus momentos felizes e os seus momentos sombrios. Neste dia, orienta-nos papa Francisco, far-nos-á bem pensar na nossa história, olhar para Jesus e, do fundo do coração, repetir-lhe muitas vezes, com o coração e em silêncio: “Lembra-Te de mim, Senhor, agora que estás no teu Reino”!

O Livro de Samuel narra a consagração de Davi como rei de Israel, chamado a exercer o reinado em obediência a Deus, o Único Senhor (2Sm 5,1-3).

Para o Apostolo Paulo, tudo o que existe para a glória de Deus, de modo especial, a Igreja, encontra em Jesus seu chefe, sua cabeça (Konings). Ele é rei por seu sangue redentor, pelo dom de sua vida, que vence o ódio e o pecado (Cl 1,12-20).

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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