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CHUTANDO O BALDE

CHUTANDO O BALDE: O ÓPIO DO POVO


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O ÓPIO DO POVO

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William Haverly Martins

Nesta quarta-feira (27), o Supremo Tribunal Federal (STF) tomou mais uma de algumas decisões absurdas que vem tomando ultimamente, deixando perplexa a opinião pública. Desta vez, em decisão apertada (5 X 5 com o voto de minerva da presidente), o Supremo foi favorável a que professores de ensino religioso promovam suas crenças em sala de aula. Nessa modalidade, conhecida como “confessional”, os professores lecionam como representantes de uma religião, com liberdade para influenciar os alunos.

Louve-se a opinião da PGR que pretendia um ensino religioso amplo, histórico, filosófico, sociológico que abrangesse todas as religiões, incluindo posições não religiosas, sem preferência desta ou daquela, afinal somos, constitucionalmente, um Estado laico.

Para o ministro Marco Aurélio, não cabe ao Estado incentivar o avanço de uma determinada crença. E o decano do STF, ministro Celso de MeloMello, seguiu na mesma linha ao declarar que a lei é clara ao proibir que a escola pública atue como aparelho ideológico ou agente fomentador de determinada confissão, pois deve o Estado observar a neutralidade em relação ao tema. Ainda, segundo o decano, a separação constitucional entre Estado e igreja tem como objetivo resguardar a liberdade religiosa e impedir que grupos fundamentalistas se apropriem do poder estatal.

Para Marcio Sotelo, procurador do Estado de São Paulo, “não temos mais constituição. O STF julga ao sabor de injunções políticas ou para agradar setores da opinião pública. São tempos sombrios, uma reação termidoriana que enterra séculos de conquistas iluministas, de avanços no processo civilizatório. Este é um estado de exceção com sabor de fascismo. A inteligência está morta no Brasil”.

E não me venham com xurumelas, se, amanhã, certos professores de ensino religioso se aproveitarem da brecha oferecida pelo STF e promoverem, no sagrado recinto da educação (já tão defasado pela incompetência), a venda de carnês dizimistas, ou de vidrinhos com a água do rio Jordão, ou de lascas das peças de madeira que serviram à crucificação de Cristo, e outros absurdos tão comuns a programas de televisão, que sustentam as milionárias igrejas neopentecostais, ditas da prosperidade, com sérias e preocupantes influências no Congresso Brasileiro. Isso para não falarmos das igrejas de origem africana, indígena, budista, indiana, muçulmana. Imaginem um professor de hinduísmo obrigando um diretor de escola a tolerar o ingresso em sala de aula de uma vaca sagrada, ou um de uma religião de matriz africana, promovendo sacrifício de animais.

A versão moderna das indulgências, em pleno século XXI, virou banalidade, fazendo Martinho Lutero, autor da Reforma Protestante, revirar na tumba. Antes, na Idade Média, era a Igreja Católica −“assim que uma moeda tilinta no cofre, uma alma sai do purgatório"−,agora, são as igrejas ditas protestantes que vendem indulgências: “o pagamento do carnê dizimista é a certeza de cura de todas as doenças”.Que absurdo!

O Congresso, a PGR, e o STF deviam juntar forças e se preocuparem com a isenção de impostos dada a igrejas de toda ordem. Enquanto associações beneficentes se matam para conseguir uns poucos reais para promoverem a cultura, a ajuda a doentes terminais, a excepcionais, a miseráveis, etc. etc., a Igreja Mundial leva o seu pseudo- apóstolo, ao longo do Brasil, a bordo de um jatinho de 25 milhões de reais, e a Universal inaugura um templo milionário em São Paulo, que faria corar o pobre Salomão. Aqui em Porto Velho, segundo a voz das ruas, a Mundial comprou o suntuoso prédio localizado na esquina da Sete de Setembro com a Jorge Teixeira, onde pretende inaugurar mais uma igreja. Fazem tudo isso sem contribuir com um único centavo para o Tesouro Nacional, responsável pela verba da saúde, da educação e da segurança do povo brasileiro, e ninguém diz nada. Todos são regulados pelo medo.

Ainda bem que essas aulas serão facultativas, e estou torcendo para que as secretarias estaduais e municipais de educação no Brasil substituam as aulas de religião por aulas de educação moral e cívica, no ensino fundamental, e de organização social e política, no ensino médio.

Religião deveria ser assunto familiar e não escolar. Não se ensina ninguém a ter fé; no máximo o que ocorre é alienação, lavagem cerebral capaz de transformar o jovem em fundamentalista, defensor cego de um determinado culto, ou até mesmo de um sistema de governo, como ocorre com o Estado Islâmico.

Nesse assunto, particularmente, endosso as palavras de Nietsche para quem areligião, especialmente a cristã, nega a vida do aqui e agora em favor de uma vida “verdadeira” após a morte. Ela faz com que dediquemos nossas vidas para um objetivo que só será de fato cumprido fora da vida. A vida “de verdade”, após a morte, é uma promessa que exige altos sacrifícios e uma conduta que, apesar de parecer nobre, é fraca e cruel; ou as de Mahatma Gandhi: Deus não tem religião; ou ainda, e mais severamente, as do filósofo Clovis de Barros Filho:Deus é o ópio do povo.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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