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Antônio Cândido

ANTÔNIO CANDIDO: HISTÓRIA: DETALHES QUE NINGUÉM VÊ


Prof. Antônio Cândido da Silva
Dia 11 do mês curso, Matias questionou-me por não ter inserido no meu livro "Enganos da Nossa História" detalhes, para ele, importantes na história desta terra e cita como exemplo um trecho de "Rondon conta sua vida", de Ester de Viveiros que, diga-se de passagem, não faz parte do livro.
Disse na apresentação do meu livro que aceitaria sugestões para melhorá-lo, pois, são tantos os deslizes, que é humanamente impossível para uma só pessoa corrigir os enganos que alguns "historiadores" cometem, aliados à falta de cuidado na interpretação e transmissão da sua informação.
Não vou procurar outros "detalhes ausentes". Fiquemos apenas com a citação feita pelo caro Matias para verificarmos que apenas no pequeno trecho por ele citado existem nada menos do que três erros e uma dúvida, dos quais, o seu "olhar de lince" conseguiu ver apenas um.
"Não pude, infelizmente, esperar pelos expedicionários do Jaci. A febre com que eu iniciara os trabalhos, e que se atenuara em Comemoração de Floriano, voltara com redobrado furor e a 1º de fevereiro tive um acesso de 41º. Claro que seria impossível ficar mais tempo em Santo Antônio. Reembarquei no mesmo navio que me trouxera, saindo a 6, com destino a Manaus. Ao passar pela barra do Jaci-Paraná com o Madeira, encontrei as turmas dos Ttes. Alencarliense e Pirineus aboletados em uma embarcação de Ascenzi & Cia., patrões de Miguel Sanka. Não havíamos, felizmente, perdido nenhum de nossos homens".
Vamos deixar claro que eu não estava analisando o livro de Ester de Viveiros para me preocupar com todos os deslizes que ele possa conter, e se estivesse, certamente não teria a petulância de considera-me perfeito.
Na utilização do livro em questão, é claro que observei a discrepância anotada por Matias Mendes e as outras que ele não viu, como por exemplo:
Rondon chegou à vila de Santo Antônio em 31 de dezembro de 1909, acometido de forte malária como ele mesmo descreve na citação acima.
É sabido, estudado e confirmado que ele voltou no mesmo navio em que viera, partindo de Santo Antônio em "6 de janeiro de 1910".
No entanto, observem a citação apresentada por Matias, palavras do próprio Rondon, de que a febre "voltara com redobrado furor e a 1º de fevereiro tive acesso de 41º", e acrescenta:
"Reembarquei no mesmo navio que me trouxera saindo a 6 com destino a Manaus".
Ou seja:
A malaria que acometia Rondon não daria trégua por um mês.
O barco que o levou a Santo Antônio, também, não esperariam exatamente um mês.
Portanto, temos no texto em questão, três erros:
1º de fevereiro em vez de 1º de janeiro.
6 de fevereiro em vez de 6 de janeiro.
E o citado por Matias com relação a foz do rio Jamari.
E uma dúvida:
É Ascence ou Ascenzi?
Se o nobre escritor tivesse lido a página seguinte que encerra o capítulo, teria encontrado dois parágrafos e treze linhas após a sua citação, as seguintes palavras:
"Mais tarde, quando cheguei (6 de fevereiro) tínhamos, além dos doentes já referidos, dois índios parecís e dois chiquitanos, tratando-se em quartos particulares da Santa Casa de Misericórdia."
Como podemos observar, Rondon, em 1910, viajando de navio de Santo Antônio ao Rio de Janeiro, conseguiu chegar ao seu destino no mesmo dia em que embarcou.
Mas, o que me deixou "encafifado" (para imitar o perfunctório do Matias), foi a maneira como ele transferiu para mim os enganos de Rondon e de Ester de Viveiros, como se eu houvesse feito uma analise, também do livro da escritora, inocentado Rondon porque "devia" estar em delírio febril ou porque o glaucoma não o deixava enxergar direito. Ou seja: se o Cândido Rondon errou está desculpado; se alguém pensou que o Cândido da Silva errou, paulada nele.
Com relação ao soldado Paixão, Matias esqueceu de dizer que está justificada no meu livro a razão porque escolhi Octaviano Cabral:
"Mas, para que possamos analisar mais um "engano da nossa história", tomemos o texto de Octaviano Cabral, que, como todos os outros é fiel ao acontecimento em si, mas que emite no final uma opinião equivocada"
Quero deixar claro ao público em geral que eu e Matias Mendes somos amigos de looonga data, e o que vem a público não chega perto das arengas sadias e proveitosas que mantemos nos bastidores.
Eu sabia das dificuldades que enfrentaria com a publicação do meu livro. Por isso, procurei parcerias para o meu trabalho, e como não consegui fui obrigado a assumir o peso da responsabilidade que estou carregando.
Como se pode ver, em apenas uma citação encontramos divergências para toda essa discussão. Imaginem nas 614 páginas do livro de Ester de Viveiros e mais a vasta documentação que existe sobre a vida de Rondon. Isso, para falarmos apenas, no grande sertanista.
Aproveito para agradecer as palavras que o confrade Matias dissera em minha defesa, no artigo por ele escrito em 13.09.07, sob o título, DEFESA:MENTIRAS E VERDADES.
Com relação às minhas vírgulas e reticências, Matias pode ficar certo de que tive bons Mestres no meu curso de Letras, o relaxamento é meu, além dos problemas que ele diz conhecer como escritor. Afinal de contas, se José Saramago pode, porque eu devo ser perfeito?  

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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