Domingo, 14 de março de 2010 - 18h41
Agnaldo Ferreira dos Santos
Quando falamos sobre imitação nos dias atuais, descobrimos que não é de hoje que é praticada na sociedade. O homem imitou, imita e nunca vai deixar de imitar. Podemos afirmar que na sociedade contemporânea, de fato, imita-se.
Quais são as pessoas que se imitam na sociedade contemporânea?
Antes de tudo, em matéria de modas. Em modas, afinal de contas, vivemos da imitação. É preciso saber o que é que está sendo usado, e o que está sendo usado não obedece a nenhuma regra da razão.
Por exemplo, há uns anos, para casamento, estava na moda vestir um terno azul e gravata prateada. Hoje já não é assim. E o coitado que, sem saber disto, se mete num casamento com uma gravata prateada dos tempos de outrora, é olhado por todo o mundo e com certeza se sentira todo fora do padrão do momento e os comentários não demoram a chegar: "Ele é um pobre atrasado, que ainda não percebeu que não se usa mais isso para casamento".... Pode usar fora do casamento, mas não nele.
Notemos que isto é uma tal contradição com os princípios admitidos pela sociedade atual, que ninguém ousará dizer que vive com a atenção vigilante para saber como será a próxima moda.
Mesmo uma senhora não terá tal formulação, de tal maneira o espírito de revolta de hoje em dia repugna quaisquer imitações. Mas se isso fosse a única imitação não seria nada. O homem contemporâneo imita artistas de cinema, imita as pessoas que imitam os artistas de cinema. Até as casas entram e saem na moda. Assim como há determinados tipos humanos que entram na moda e depois também saem da moda.
A imitação impõe-se a tudo, determina tudo. O homem contemporâneo imita muito, mas não gosta de dizer que imita.
Imita em modos de trabalho. Por exemplo, de repente generaliza-se uma versão no meio dos advogados: tal tipo de esperteza foi descoberto por fulano que é o último tipo de esperteza. Todos os advogados aprendem e aplicam aquela esperteza. De repente, aquela fica banal e aparece uma velhacaria mais velhaca; aquilo passa para a penumbra e a nota do advogado evoluído é outro gênero de velhacaria.
Isto se dá com as construções, com os diagnósticos, com os tratamentos médicos. Há alimentos que entram e saem da prescrição dietética. E assim por diante.
A imitação é um fenômeno humano, mas essa imitação supõe uma certa dependência. Supondo uma certa dependência, ela é contrária às idéias de igualdade republicana. E por causa disto é um fenômeno ao mesmo tempo muito evidente e mais ou menos clandestino da sociedade contemporânea.
O homem tem necessidade de um modelo a quem imitar
E em face dessa anomalia —, de uma coisa que o mundo contemporâneo tem de praticar e que pratica de um modo errado e servil, mas de outro lado é uma coisa que tem certa razão de ser. Deveríamos perguntar qual a razão de ser da imitação, qual o limite da imitação e ver como é que essa função da imitação pode ser institucionalizada dentro de uma sociedade.
Para essa institucionalização, o exemplo da Idade Média ser-nos-á da mais alta importância. A imitação propriamente, o que é?
Devemos reconhecer que a maior parte dos homens não tem uma inteligência muito dada à abstração e vê as coisas abstratas na medida em que elas são realizadas em situações concretas.
Por exemplo, o amor materno ou o amor filial, só se chega a conhecer bem quando se conhece uma boa mãe ou um bom filho. Não tendo conhecido uma boa mãe ou um bom filho a pessoa não sabe bem o que é o amor materno ou o amor filial.
Porque, abstratamente, pode-se saber o que é uma boa mãe: se usará a comparação do pelicano, se usará de outras abstrações ou de outras analogias;ou seja, não é preciso ter o conhecimento concreto de uma boa mãe para se saber verdadeiramente o que é amor materno. Mas a maior parte das pessoas não vai ao compêndio para ver o amor que uma mãe deve a seu filho; elas analisam uma boa mãe com seu bom filho, intuem se aquilo está direito e daí depreendem algumas determinadas regras.
Quer dizer, a inteligência humana é, por sua natureza, concreta. Ela se volta para as situações de caráter concreto. É vendo que certas situações concretas estão em ordem que ela acaba compreendendo teoricamente como a coisa deve ser. Os conceitos não descem das abstrações para a realidade, mas eles sobem desta para as abstrações.
Meu grande mestre e professor, Plínio Correa, contou-me que teve um colega que, aos 16 anos, para manter a conversa em sociedade tinha um manual de conversação e, depois, quando ia aos ambientes sociais, praticava as conversas lidas no manual.
Agir assim denota uma inteligência deformada, porque não é desse modo que se aprende a conversar. Aprende-se a conversar, conversando. Muito tempo depois, a gente percebe as regras que seguiu para conversar. A inteligência humana vê as situações concretas e das situações concretas sobe aos ápices. Isto dá a fundamentação do ser.
O homem não pratica a virtude lendo o catecismo, lendo uma doutrina qualquer, e depois cuidando de praticar a virtude. Ele vê pessoas virtuosas e aqueles exemplos de virtude lhe mostram praticamente o que a virtude é. Ao mesmo tempo, no catecismo, ele vai ver o que é a virtude. Se essas duas coisas se justapõem, ele tem uma noção da virtude. Mas é por meio do exemplo que ele tem uma noção viva, concreta das coisas; é por meio do exemplo que ele forma seu espírito.
O exemplo tem, dentro da vida social, um papel primordial. Papel primordial no que diz respeito à virtude, no sentido mais amplo da palavra. Não só à virtude moral, estritamente falando, mas a tudo quanto é qualidade ou capacidade.
Suponhamos, por exemplo, bom gosto. Como se adquire? Bom gosto é uma qualidade inata, mas muita gente a desenvolve vendo outras pessoas de bom gosto, ainda que seja um gosto profundamente diferente do seu.
Mas é no contato com elas, vendo o que elas fazem, ouvindo o que dizem, procurando imitá-las, é que a gente acaba compreendendo como é o bom gosto.
Quer dizer, é preciso ter uma porção de situações concretas para aprender depois como as coisas realmente devem ser.
Fonte: AGNALDO FERREIRA DOS SANTOS / [email protected]
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