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Abnael Machado

CACHOEIRA DE TEOTÔNIO



A Cachoeira do Teotônio, a maior e mais importante do rio Madeira, é um acidente geográfico, formado por terrenos cristalinos da era primária que constituem a Encosta Setentrional do Planalto Brasileiro, na qual se encaixa o alto curso do citado rio, em uma fossa teutônica. 

A cachoeira forma uma colossal muralha de pedras, estendendo-se por toda a largura do rio, de margem a margem, numa extensão de mais de 2.000 metros. As águas despencam-se de uma altura de mais de oito metros, passando em alta velocidade por quatro canais com desníveis entre 8 a 10 metros, formados por uma série de pedras de grandes tamanhos que se acumulam atravessando o rio de um lado para outro, o que torna as quedas violentíssimas e perigosas em qualquer época do ano.
 
É a cachoeira de impressionante beleza, quem a contempla fica extasiado ante tanta grandiosidade e capricho da natureza orquestrando seus elementos em sinfonia de contrastes e harmonias. Ali se choca a força imbatível das águas com a resistência dos rochedos, essas em torvelinho líquido precipitando-se contra as penedias, elevando-se para o céu em nuvens de espumas, e neblinas, num estrondo permanente e ensurdecedor. Na época da estiagem, soma-se a essa magnífica beleza natural, o espetáculo da piracema, quando milhares de peixes de variadas espécies e tamanhos, em grandes cardumes obedecendo a um ditame biológico, buscam alcançar as cabeceiras dos rios, tentando, obstinadamente em saltos ornamentais, ultrapassar a barragem formada pela massa d´água despejando-se em grande velocidade pelos tombos de pedra. 

Sobre a Cachoeira do Teotônio, que já foi denominada de Gamon, Laguerites e Salto Grande, encontra-se referências a partir do início do século XVIIII, nos relatos dos aventureiros, comerciantes e militares, que em obediência ao rei de Portugal, utilizavam-se da rota fluvial Guaporé-Mamoré-Madeira-Amazonas e vice-versa, única via de comunicação entre Vila Bela da Santíssima Trindade (Minas de ouro do Alto Guaporé) e Santa Maria de Belém do Grão Pará. Todos a descrevem procurando transmitir a impressão que lhes causaram pela grandiosidade de sua força e beleza. Um deles, o mestre-de-campo José Gonçalves da Fonseca (1749), assim a ela se refere: “É uma muralha desmantelada, por cujas ruínas precipitando-se a água do rio com furiosa violência resulta um estrondo, que a haver nas suas margens, povoações, seria provável padecerem sues habitantes à surdez. Neste impedimento que acha o rio e rompe com tão furioso estrépito, não há caminho algum para os homens vencerem este passo por canais ou remansos; porque estes não os há junto as pedras e aqueles se não perceberem, porque entre as quebradas dos rochedos, tudo são fervedouros, de águas...” 

A denominação de Teotônio dada à cachoeira é em homenagem ao Bacharel Teotônio da Sylva Gusmão, que de acordo com a estratégia de conquista e ocupação da Amazônia, estabelecida pelo Marques de Pombal, em 1757 instalou uma feitoria na cachoeira de Gamon, denominando-a de “Nossa Senhora da Boa Viagem do Grande Salto”, a qual foi elevada à categoria de vila (1759), pelo Capitão- General Francisco Xavier de Mendonça Furtado, Governador da Capitania do Grão Pará. Tinha por objetivo prestar apoio aos navegantes e exercer controle sobre o comércio de ouro e de abastecimento das minas de Mato Grosso no Alto Guaporé. A vila teve vida efêmera motivada por desavenças entre seus habitantes e a permanente hostilidade dos índios Muras. 

Teotônio de Gusmão, convencendo-se da impossibilidade de ali permanecer com sua família, abandonou a povoação (1760), indo residir na Vila de Santarém, no Grão Pará, onde faleceu. Daí em diante, maior acidente geográfico do rio Madeira passou a designar-se – SALTO DO TEOTÔNIO. 

Outras tentativas de se estabelecer um núcleo populacional no Salto do Teotônio, ocorreram no início do século XIX, empreendimento realizado pelo Tenente Coronel José Pereira da Silva, (1819), assassinado por seus escravos. Substituído pelo Tenente Diogo de Ramos Cardoso, que desistiu da empresa (1825), retornando ao Grão Pará. 

Atualmente Teotônio é um arraial de garimpeiros, e pescadores, cenário aonde anualmente realiza-se o Campeonato de Pesca, promovido anteriormente pelo Lions Clube de Porto Velho – Centro, evento idealizado pelo empresário Cláudio Feitosa, divulgando o Salto do Teotônio em todo o País. Porém, seu potencial turístico continua inexplorado.


ABNAEL MACHADO DE LIMA
Membro do Instituto Histórico e Geográfico 
Fotos: Serginho / Gentedeopinião

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